JOGOS DE GUERRA NA ERA DIGITAL – Hoje o mundo é complemente diferente, os Estados, todos eles, estão reféns da tecnologia informática e da utilização da web, o que os torna vulneráveis a ciberataques. Ataques esses que temos sentido com algum impacto institucional ou económico na última década.
Após a verbalização através dos órgãos de comunicação social de que “tudo vai ficar bem” em plena pandemia, eis que, com o aliviar das medidas restritivas entre Estados no sentido de uma recuperação económica internacional, surge em final de 2021 uma crise energética à escala global acompanhada de tremendos aumentos nos custos energético e do transporte interna-cional. Qualquer comentário e/ou explicação para o sucedido tem sido amplamente debatido, desde a escassez de recursos, passando pela pura especulação dos operadores e eventuais cenários de cauterização.
Às 03h30 de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia ousou iniciar uma invasão militar à Ucrânia, que nos lembra a todos as invasões imperialistas que levaram a Europa a sofrer na primeira metade do século XX duas guerras com escalada mundial com efeitos devastadores para os povos envolvidos e com impactos económicos catastróficos. Ora, esta bárbara invasão a um país independente reconhecido pela ONU, para além das terríveis consequências para a sua população, que nesta fase já contabiliza cerca de 3 milhões de refugiados para fora das suas fronteiras e com cerca de 6 milhões de refugiados internos para territórios mais a ocidente, teve igualmente outras consequências, desta feita na economia mundial, com o abrupto aumento dos custos energéticos e dos produtos alimentares, com incidência no trigo, milho e óleo de girassol, tendo em conta que a Ucrânia e a Rússia são dos maiores produtores mundiais destes cereais.
DEBILITAR A ECONOMIA RUSSA
A União Europeia e os Estados Unidos da América, entre outros, apressaram-se a condenar os atos da Rússia e aplicaram elevadas sanções económicas com uma transversalidade nunca antes vista, por forma a debilitar a economia russa alta-mente dependente de uma globalização económica, que lhes permitiu até aos dias de hoje a sua própria ascensão, colocando a Rússia na 11.ª posição da tabela das maiores economias do mundo com base no PIB nominal e de acordo com estimativas disponibilizadas pelo Fundo Monetário Internacional em outubro de 2021. Esta guerra, como se tem dito, “não interessa a ninguém” e muito menos que a mesma escale para um patamar mundial com proporções inimagináveis, mas o “mundo livre” não pode assistir no sofá à escalada da violência e dos crimes de guerra que temos vindo a verificar. Nesse contexto, algumas organizações que atuam na clandestinidade, cujas armas são digitais, têm um papel que poderá ser preponderante no actual xadrez de guerra. Aliás, para quem nasceu no pós-guerra (Segunda Guerra Mundial) e em pleno ambiente de guerra fria com o eixo soviético separado por um “muro” do Ocidente e de todo o seu modo de vida, em 1 de março de 1984 foi lançado em Portugal o filme WarGames, que catapultou a carreira do ator Matthew Broderick. De acordo com a sinopse, a personagem principal (Nerd) consegue aceder aos mais avançados sis-temas do mundo, acabando por entrar acidentalmente no sistema de defesa dos EUA, iniciando um incidente que poderia ter levado à terceira guerra mundial.
VULNERÁVEIS A CIBERATAQUES
Ficção científica à parte, após 38 anos do lançamento do referido filme em que as ferramentas dos cibernautas de então eram o saudoso ZX Spectrum com a “estonteante” capacidade de 48KB, hoje o mundo é complemente diferente, os Estados, todos eles, estão reféns da tecnologia informática e da utilização da web, o que os torna vulneráveis a ciberataques. Ataques esses que temos sentido com algum impacto institucional ou económico na última década. Desta feita poderemos contar certamente com uma ciberguerra! Entre estes grupos autodenominados de “Hacktivistas”, querendo dar a sensação de que estamos perante movimentos ativistas que lutam pela paz, existe um grupo rotulado como pertencente à dark web denominado de Anonymous, que declarou expressamente ataques cibernautas pessoais a Putin e infraestruturas críticas da Rússia, cuja comunicação foi efetuada através na rede social Twitter com comunicação de intenção de guerra na primeira pessoa.
À data de hoje e através de um tribunal russo de Tverskoi, foi declarada com efeitos imediatos a proibição das redes sociais Facebook e Instagram por alegada organização extremista, dado que permitem apelos à violência contra russos, ficando por ora a salvo a rede social WhatsApp, tendo em conta que, de acordo com a juíza, não contém funcionalidades para a difusão pública de informação. Aparentemente, até agora foi reivindicado pelo grupo Anonymous um ataque bem-sucedido à rede da televisão estatal russa RT News, por forma a proibir a desinformação tóxica e nociva publicada por ordens de Putin e seus acólitos. Mas não podemos deixar de relembrar que os russos, nesta sede, possuem um exército considerável e muito bem preparado de hackersque têm, alegadamente, lançado vários ataques internacionais, cujo grande êxito terá ocorrido nas eleições que opunham Hillary Clinton e Donald Trump em 2016 para as presidenciais nos EUA.
Independentemente da chamada guerra de contrainformação lançada pelo regime de Putin, o que é facto é que para além das manobras políticas e económicas lançadas pelo “mundo livre”, teremos que contar inevitavelmente com os “Hacktivistas”, pois irão ter seguramente um papel preponderante para o alcance da tão proclamada expressão russa de Glasnost, no seu verdadeiro sentido de abertura política!