No setor da Saúde, na sua opinião, em que medida poderemos considerar as tecnologias de informação como fator crítico de mudança?
As tecnologias de informação e comunicação estão para qualquer setor de atividade económica e social, tanto público como privado, como, por exemplo, o coração e os pulmões estão para a vida saudável de qualquer ser humano. No particular caso da saúde, e mais do que as tecnologias per se (vulgo “os computadores”), os sistemas tecnológicos de gestão de dados e de informação constituem verdadeiros sistemas circulatório e respiratório do setor, a par das outras tecnologias que são os fármacos e os dispositivos médicos, que poderão ser os sistemas digestivo e linfático.E assim, sendo sem sombra de dúvidas um fator crítico de mudança, as tecnologias de informação em saúde necessitam de se apoiar num bom sistema nervoso bem conduzido por um cérebro esclarecido e por um sistema imunitário que as salvaguarde da infeção em investimentos nas modas tecnológicas que não se pautem por critérios claros de eficiência, eficácia e boa relação qualidade/preço.
A aposta numa nova arquitetura dos sistemas de informação, no setor da Saúde, pode contribuir para melhorar a eficiência e a qualidade?
As arquiteturas dos sistemas de informação, e tomando como exemplo os progressos em saúde, não podem ser vistas apenas como “peças arquitetónicas bonitas”. Têm de ser bem enquadradas no seu desempenho futuro, no ambiente para o qual os sistemas são projetados, para se saber ou apenas antecipar, com elevada probabilidade de sucesso, se vamos ou não ter progressos equilibrados entre flexibilidade e rigor. Quero com isto dizer que, a par de se ponderar sempre a arquitetura de um sistema de informação em saúde numa perspetiva de valor, este deve partir sempre de uma base de terreno sólido, que são os processos de trabalho, e da integração entre gestão de dados, gestão da informação e gestão do conhecimento, tanto do ponto de vista dos pacientes como dos profissionais, bem como da evolução da Organização para a qual foi projetado e desenvolvido. Numa frase só: com qualidade para permitir qualidade (fiabilidade, performance, durabilidade, conformidade…).
É possível, no contexto atual, assegurar um adequado alinhamento estratégico entre a utilização dos sistemas e das tecnologias de informação e a reforma estrutural das organizações?
Utilizando uma espirituosa máxima de que “o mundo é uma espécie de permanente diamante em bruto aos olhos das gerações que coexistem e se sucedem”, o alinhamento estratégico entre a utilização dos sistemas e das tecnologias de informação e a reforma estrutural das organizações poderia ser definido, na sua obrigatoriedade imprescindível nos tempos que vivemos, como uma pérola que uma ostra, para ser feliz, nunca quer produzir, mas que algumas vezes é incentivada pela “natureza das coisas” a deitar cá para fora. E para incentivar a ostra a produzir a pérola, é necessário que muitos lhe segredem que nem só “os diamantes são eternos”… e que ela, ostra, neste caso Organização de saúde, por orgulho e/ou vaidade positiva, o faça com a sempre boa convicção de que uma pérola é um templo construído pela dor à volta de um grão de areia, para conseguir encantar a nostalgia do passado. Nos alinhamentos estratégicos, por vezes e infelizmente, são mais coroas de espinhos do que colares de pérolas.
Como antevê o papel das tecnologias de informação na sustentabilidade global do sistema de saúde?
Tal como antevejo o tema para um romance épico que ainda quero escrever: apenas a anormalidade brutal das personagens e coisas poderá alterar o enredo que tenho idealizado e o fim encontrado que não sei se conseguirei redigir no teclado do capital financeiro e dos sonhos socioeconómicos da doutrina social da Igreja. Ou da utopia de nunca ver o mundo cheio de lares para pessoas de meia-idade, em que profissionais da saúde e tecnólogos jogassem o jogo virtual da vida saudável, como foi vivida por Adão e Eva depois do pecado original que os levou a uma vida em separado e numa selva diferente. Como nunca ousaram antever. Mas viveram, e nós disso somos a prova no meio de uma crise profunda da Civilização Ocidental. O papel das tecnologias de informação na sustentabilidade global do sistema de saúde tem de ser um papel de embrulho bonito decorado com dinheiro “real e virtual”. E que se saiba donde e para onde vai o “presente”, na procura da saúde e bem-estar de pacientes e profissionais. Da Sociedade no seu todo.