Recentemente, num zapping televisivo, retive-me num episódio noticioso que me arrastou para um misto de incredulidade e estupefação. Lado a lado, Passos Coelho e Durão Barroso davam uma conferência de imprensa em Bruxelas e, a dado momento, deixei de perceber quem era efetivamente o primeiro-ministro de Portugal. Pior, pelo teor das palavras, achei que era mais Durão do que Passos Coelho, embora o primeiro fosse presidente da Comissão Europeia e nada tivesse a ver com o meu país. Não percebi se esta atitude representava algum resquício saudosista de um homem que, enquanto primeiro-ministro que foi, mais não fez do que abandonar o seu país, mas claramente percebi que esta amarga apatia do atual primeiro-ministro perante uma intolerável ingerência na nossa governação não serve os interesses do meu país. Mas também acredito que para Passos Coelho não seja fácil gerir e digerir estes momentos, quando o país vive refém de uma situação que, em certa medida, enquanto primeiro-ministro herdou. Quando conheci Durão Barroso, no final da década de 80, o “menino”, como alguém sabiamente o apelidou, era ainda um girino, por oposição à fase do cherne, como a dada altura da sua carreira política a sua mulher entendeu por bem caracterizá-lo. Bem ou mal, girino ou cherne, o que é verdade é que Durão Barroso rapidamente se transformou num peixe piloto, uma espécie que vive simbioticamente com o tubarão e que segue, em segurança, o seu rasto de predação.Desta feita, Durão Barroso escolheu o “tubarão germânico”, uma subespécie da família predadora conhecida por Merkel, que tem devastado os mares europeus de qualquer espécie que fuja ao padrão do seu modus vivendi e arrasta na sua esteira um incontrolável número de peixes pilotos que ocupam lugares de decisão por essa Europa fora.Não é só a nossa sobrevivência política, enquanto Estado-Nação, que está em risco, mas sim a nossa sobrevivência enquanto povo, enquanto legítimos herdeiros e precursores de uma diversidade cultural, pautado por valores de tenaz humanismo que não queremos perder e cuja afirmação universalista já nos custou muitas vidas ao longo dos mais de oito séculos da nossa História.Será que queremos ser “estes” europeus? Acredito que não. Será que temos de mudar e reformar muitas coisas neste país? Estou profundamente convicto de que sim, mas sem que este caminho se transforme num pesadelo de luta constante contra uma personificação de mal que nos sufoca cada vez que procuramos pôr a cabeça à tona da água ou enverede por radicalismos cegos, tal como o velho capitão Ahab na sua perseguição obsessiva a Moby Dick, que acabou por custar a vida a tudo e a todos.Portugal tem de encontrar o seu ponto de viragem, mas nunca conseguirá fazê-lo com uma classe política que ceda ao amorfismo e à subserviência ou com um povo desesperado e vulnerável ao apelo do radicalismo e do anarquismo. E o problema maior é que hoje estes dois pesos já estão no mesmo prato da balança e assim cada vez ficamos mais à mercê dos predadores.