ISABEL MEIRELLES

grecia_ue_euroAS RUÍNAS GREGAS

Seis anos após o primeiro pedido de assistência da Grécia à União Europeia e FMI, em abril de 2010, e quatro após o segundo resgate, em maio de 2012, no valor de 130 mil milhões de euros, a Grécia continua, ainda hoje, mergulhada numa crise profunda.

A economia grega perdeu 1/5 do seu valor, encolheu cerca de 22%, conta com mais de um milhão de pobres, um desemprego que ronda os 30% e uma dívida pública que ultrapassa hoje os 176,9% do PIB. O atual primeiro-ministro Alexis Tsipras, do partido de extrema-esquerda Syriza, que prometia um programa antiausteridade, está a tentar impor algum rigor nas contas públicas, aparentemente com mais empenho do que os seus antecessores, até porque os cofres do Estado estão vazios e os pagamentos adiados a muitos setores. Ou seja, a bancarrota é um risco real e só resta tentar persuadir os credores a prolongar o resgate até junho para ser possível o recebimento da última tranche de 7,2 mil milhões de euros e, assim, impedir o colapso iminente e mais um verão quente para a Grécia e para a Europa. Para isso, Tsipras tem que implementar reformas estruturais para melhorar a competitividade da economia, que passam por privatizações, corte nas pensões, aumento das quotas da Segurança Social para os agricultores e profissionais liberais, diminuição do número de funcionários públicos, atingir um saldo primário de 3,5% do PIB, combater a corrupção e, sobretudo, a evasão fiscal. Neste capítulo constata-se que 50% dos gregos não paga impostos, contra 2% dos portugueses, o que ilustra a situação caótica daquele país. Só que a margem de manobra do primeiro-ministro é cada vez mais estreita dadas as sucessivas greves e contestações de rua de trabalhadores e patrões e a sua perda de apoio, especialmente no parlamento, que em 300 deputados apenas conta com 153 fiéis, o que lhe dá uma margem pouco confortável de 3 parlamentares e pouco sólida para implementar as reformas exigidas, tão necessárias quanto impopulares. Em suma, tudo se encaminha para um cenário de instabilidade e paralisia e, eventualmente, de novas eleições.

Crise migratóriathey-all-fall-down

A tudo isto junta-se o impacto da crise migratória, dado que a Grécia é a porta de entrada de 85% dos refugiados e as acusações, nomeadamente entre os responsáveis helénicos e a Comissão Europeia, são mútuas. Esta acusa o país de não estar a exercer um controlo eficaz das suas fronteiras, recentemente reforçadas por patrulhas da Frontex no mar Egeu, considerando mesmo o apoio de uma força da NATO, e de negligenciar o registo dos migrantes, colocando mesmo a eventualidade do fecho de fronteiras e de saída do espaço Schengen. A Grécia, por seu turno, culpa as instituições europeias de não ser ajudada financeiramente nesta crise onde já gastou cerca de 350 milhões de euros, sem que uma comparticipação substancial de Bruxelas tenha chegado e, por isso, de não ter recursos para prover à gigantesca burocracia de triagem dos refugiados e de toda a organização logística que lhe está subjacente, dando como exemplo a localidade de Mytilene que conta com 27 mil habitantes e acolhe 35 mil refugiados, ou mesmo o país no seu todo, que com 9 milhões de habitantes já recebeu 3 milhões de migrantes. As acusações sobem de tal modo de tom que o ministro da Defesa grego, Panos Kamenos, parceiro de extrema-direita da coligação, ameaça retaliar e inundar a Europa de imigrantes ilegais e de jiadistas, caso a situação não se resolva a contento do Governo.

news-260-imageSituação atual

Temos, assim, atualmente, na Grécia uma situação alta e perigosamente explosiva que poderá levar à catástrofe económica e financeira, e consequentemente sociopolítica, com um desfecho de Grexit, ou seja, a saída do país da moeda única com o regresso ao Dracma e à política do orgulhosamente sós. A verificar-se este cenário catastrófico, o efeito de contágio pode ser iminente e alastrar-se a outros Estados fragilizados como Portugal. Podemos estar, assim, a assistir ao primeiro capítulo da ruína grega, que não as do Partenon, e ao princípio do fim do sonho europeu de paz e de prosperidade.