CONGRESSO PSD

A FESTA SURPRESA ONDE “QUASE APARECIA BARROSO”

 

O Coliseu dos Recreios voltou a ser palco de um congresso histórico do PSD. Passos pediu consensos, deu a entender que quer uma saída limpa do programa da troika e saiu do conclave com candidato europeu, um putativo candidato às próximas presidenciais e um partido preparado para o combate das legislativas de 2015.

 

Na melhor tradição do Coliseu dos Recreios, Passos pode dizer que desta vez foi ele a liderar um congresso histórico nos 40 anos da fundação do PSD. Houve um pouco de tudo para completar a “festa de anos surpresa”, como lhe chamou Pedro Santana Lopes. Vários ex-líderes presentes – “com jeito, quase que aparecia Durão Barroso” –, um candidato às europeias que mostrou no púlpito que a eleição não está ganha para o PS, um ex-líder derrotado nas autárquicas que quis “prestar contas” aos militantes e, “last but not least”, o putativo candidato presidencial, que quis correr o risco de se estar a “fazer a alguma coisa” e apareceu de surpresa no sábado à noite, para um discurso que levantou o Congresso. Não fosse o incómodo e também surpreendente regresso do amigo e braço-direito Miguel Relvas, e Passos Coelho tinha saído do Coliseu dos Recreios com o partido a aparentar uma união maior do que nunca e pronto para um combate nas próximas eleições legislativas de 2015, em cuja vitória os sociais-democratas cada vez acreditam mais. O tiro de partida para as campanhas foi dado na reunião magna do Coliseu, e a frase de arranque “o País está melhor” promete tornar-se um slogan a que todos quiseram tentar dar resposta naquele fim de semana. Realçar os dados positivos que vão surgindo na economia, sem esquecer o sofrimento dos portugueses, e dar como vitória a inexistência de um segundo resgate são motes para o futuro. Nos vários discursos dos mais alinhados e nas intervenções dos vários ministros que o primeiro-ministro levou aos Recreios, não faltaram as notas positivas de esperança na economia, o balanço das reformas feitas, das metas conquistadas e a justificação dos sacrifícios pedidos. No final, tudo se resumia assim: “valeu a pena”. E valeu a pena, como disse Passos Coelho, porque “o país está melhor” hoje do que há quase três anos quando tomou posse. E está “melhor” porque vai ser possível evitar o segundo resgate e dispensar a troika para nos dizer o que precisamos de fazer. A forma como Portugal vai terminar o programa de assistência foi, aliás, a principal mensagem nas entrelinhas dos discursos. Passos diz que “não precisamos da troika para saber o que temos que fazer”. “Não precisamos de um contrato com os nossos parceiros, não é preciso essa muleta”, afirmou o primeiro-ministro, dando a ideia de que a saída à irlandesa ou saída limpa é, de facto, a sua preferida. Mas deixou a ideia de que para que ela aconteça precisa do PS.

 

Estratégia aprovada

Um congresso partidário não é propriamente o melhor palco para “namorar” a oposição, mas aqui e acolá, o primeiro-ministro e o seu séquito procuraram chamar o PS de António José Seguro à responsabilidade de dar apoio à estratégia do pós-troika. Porque a “exigência vai ser maior depois de maio”, Passos quer “entendimentos alargados”. E lembrou que, apesar das suas diferenças, se conseguiu esse entendimento com Paulo Portas, apesar da “teimosia” dos dois, então qual a razão para não o “pedir aos outros?”. E o primeiro-ministro acabou por fazê-lo. Invocou os esforços de Cavaco Silva, no Verão, para um compromisso político entre PSD, CDS e PS, e ouviu Marcelo Rebelo de Sousa dizer que esse compromisso entre junho de 2014 e a primavera de 2015 é “inevitável”. O “quórum mínimo”, disse Morais Sarmento, nem inclui o atual parceiro de coligação: é entre PSD e PS. Os avisos quanto ao calendário fixado para que o consenso seja trabalhado dirigiram-se em particular a António José Seguro. Marcelo até o acusou de “não ter percebido esta necessidade, quando até António Costa já percebeu”. Além disso, o ex-líder do PSD alertou o parceiro de coligação – o CDS – que o fim do programa de assistência “não é o 1 de Dezembro de 1640” e que os “portugueses não vão abrir a janela a 18 de maio e dizer que têm um país novo”. A chegada de Marcelo ao Congresso foi, aliás, o momento alto do conclave, numa sucessão de momentos que deixaram o Coliseu dos Recreios ao rubro. Assim que se sentou ao lado de Passos Coelho, depois de ter decidido ir “à última hora, já no táxi na Segunda Circular”, o professor viu o primeiro-ministro levantar-se para anunciar a uma plateia entusiasmada que Paulo Rangel iria ser o cabeça de lista do PSD e do CDS às eleições europeias de maio. Depois ouviu um discurso mobilizador e em tom de campanha eleitoral do candidato, em que os ataques a Seguro e ao PS foram constantes.

 

Uma presença notada

Quando subiu ao palco, Marcelo tinha já uma plateia entusiasmada para o ouvir contar a história da fundação do PSD, há 40 anos, quando fugiu pelos telhados em Beja ou arrombou “democraticamente” a sede da Legião Portuguesa. “As pessoas iam ligando e dizendo: não vás, estás a fazer-te ao piso a qualquer coisa… Se queres, ficas mal, se não queres, estás lixado”, brincou ao justificar a sua indecisão em participar. Foi e brilhou, mostrando a Passos que, tal como lembrou no final Marco António Costa, “pode ser aquilo que quiser”, até candidato presidencial do PSD nas próximas eleições de 2016. Embora o clima do XXXV Congresso tenha sido, maioritariamente, de festa, Passos tentou trazer alguma serenidade, lembrando que a saída da troika não significa que termine o esforço: “Não vamos andar sobre um precipício, mas é um caminho muito difícil”, alertou. E esse caminho difícil ainda está muito presente na vida dos portugueses. Durante todo o Congresso foram vários os alertas de congressistas de todo o país para os sacrifícios e dificuldades das populações. O esquecimento do interior e os cortes na Saúde foram os mais criticados. Proposta concreta, ficou uma no final: o Governo vai criar uma comissão para apresentar um plano para incentivar a natalidade. Joaquim Azevedo, da Universidade Católica, foi escolhido para a presidir. O Congresso aprovou todas as moções setoriais. O PSD deu o seu aval ao aumento do salário mínimo, à descida do IVA na restauração, à alteração da lei da greve e da lei do arrendamento, bem como a uma reavaliação da lei do aborto. Uma nota geral que ficou de todos os discursos, desde Luís Filipe Menezes a Santana Lopes, passando por Morais Sarmento e o próprio Marcelo Rebelo de Sousa: o PSD tem uma esperança cada vez maior de que poderá derrotar o PS de António José Seguro nas legislativas de 2015, se a inversão de ciclo na economia se vier a comprovar.