PORTUGAL TEM 440 BANDEIRAS AZUIS EM 2024
Um trabalho articulado entre municípios e as entidades gestoras regionais responsáveis pela gestão dos sistemas de saneamento permitiu nos últimos 30 anos uma trajetória de sucesso na gestão das águas residuais, assegurando a drenagem e o adequado tratamento.
O reflexo do trabalho levado a cabo pelos municípios e as entidades gestoras regionais dos sistemas de saneamento traduz-se em indicadores de saúde pública, na eliminação de doenças de origem hídrica, na significativa melhoria nos indicadores ambientais, num papel central na atratividade para muitas atividades associadas ao turismo, com destaque para as praias costeiras e fluviais.
Muitos dos territórios que hoje se tornaram os melhores destinos para a prática de atividades em praias apresentavam nos anos 1980 problemas decorrentes de um crescimento urbano pouco planeado e com deficientes infraestruturas de saneamento.
Em jornais locais, podíamos ler no final da década de 1980: “Três praias da Linha na lista negra têm má qualidade, segundo os últimos resultados do Instituto da Água…” ou titulavam: “Banhistas indignados – ‘Não entrei na praia porque com este aspecto nem me atrevo’, diz Valdemar Alcobia, apontando para uma mancha no areal…”. O Correio da Linha de julho de 1993 destacava: “Praias da Linha em má situação.”
Em Julho de 2000 o jornal A Capital referia o seguinte: “Guincho abre bandeira azul. A época balnear começa oficialmente no próximo dia 17 de Junho e a praia do Guincho será a primeira, entre as 139 praias contempladas, a receber a bandeira azul. Na lista para 2000, constam ainda as praias das Moitas, Tamariz, São Pedro do Estoril e Crismina…”.
O atual Parque Tejo, que acaba de receber o festival Rock in Rio e acolheu mais de um milhão de jovens na Jornada Mundial da Juventude, era contíguo ao rio Trancão, o rio mais poluído da Europa no início da década de 1990 e que mercê de importante plano de investimentos em saneamento foi despoluído a tempo da realização, naquela área, do marcante evento EXPO’98.
Praias galardoadas
Portugal conta este ano de 2024 com 440 praias, marinas e embarcações com bandeira azul, mais oito do que em 2023, tornando-se o segundo país do mundo com maior número de praias fluviais galardoadas, conforme foi anunciado pela Associação Bandeira Azul Europa.
Uma praia distinguida com bandeira azul obedece a vários critérios, entre os quais a qualidade da água e espaço (ordenamento), segurança e serviços, vigilância e sensibilização das pessoas (educação ambiental). Este ano, há ao todo 398 praias com bandeira azul, distribuídas por 103 municípios. O destaque vai para Moura e Castelo Branco, que candidataram as suas praias pela primeira vez.
Importa realçar que, a nível internacional, Portugal ocupa o segundo lugar no que diz respeito ao número de embarcações ecoturísticas galardoadas, assim como de praias do interior com bandeira azul. Entre os 63 países que desenvolvem o Programa Bandeira Azul, Portugal, em 2024, mantém a sexta posição.
No arranque da época balnear de 2024, a Quercus classificou, com base na informação pública oficial disponibilizada pela Agência Portuguesa do Ambiente, um total de 420 praias com Qualidade de Ouro em Portugal (mais 26 do que em 2023), das quais 349 são praias costeiras, 61 são praias fluviais e 10 são praias de transição. Das 61 praias fluviais que arrecadaram o galardão, 24 estão localizadas na área de atuação da Águas do Vale do Tejo.
A atribuição de Qualidade de Ouro está centrada no parâmetro da qualidade da água e é atribuído em praias que mantêm a excelência das suas águas de uma forma consistente ao longo de um período de seis anos.
O exemplo de Pessegueiro
No passado dia 27 de junho, decorreu a cerimónia de hasteamento da Bandeira Qualidade de Ouro 2024, na praia fluvial de Pessegueiro, em Pampilhosa da Serra. Distinguida com aquela bandeira, esta praia é uma das duas zonas balneares do Município de Pampilhosa da Serra galardoadas este ano pela Quercus (a par da praia fluvial de Santa Luzia),confirmando a excelente qualidade das suas águas balneares.
No site da Quercus podemos ler: “A escolha desta praia para acolher uma das cerimónias de hasteamento oficial da bandeira ‘Praia de Ouro 2024’ teve em consideração o trabalho desenvolvido pela Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, na área do ambiente, e pela Águas do Vale do Tejo (empresa do Grupo Águas de Portugal), entidade responsável pelo tratamento de águas residuais, fundamental para restituir ao meio hídrico água com a qualidade necessária à manutenção dos ecossistemas.”
O Município de Pampilhosa da Serra será um caso extremo de despovoamento do interior, processo iniciado no período do pós-guerra e nunca mais superado. Hoje, é o regresso às origens dos seus filhos que fizeram vida em Lisboa que mantém muitas das suas aldeias com população residente. Não deixa por isso de ser relevante procurar estabelecer um nexo de causalidade entre estes projetos bem-sucedidos (praias fluviais) e a manutenção de alguma atividade económica (turismo natureza).
A praia de Pessegueiro, sendo um local de grande beleza natural e com uma simples mas bem orientada intervenção, permitiu gerar um espaço procurado nos períodos de férias. Complementado com algumas habitações para arrendar e mercê de investimento em recuperação de imóveis, gera procura turística quase ao longo do ano, permitindo a criação de oito empregos.
O Município de Pampilhosa da Serra, a Junta de Freguesia de Pessegueiro e a Comissão de Melhoramentos de Pessegueiro procuram captar recursos e vontades para alargar a oferta e para prosseguir a manutenção do espaço. A recuperação de um lagar, num equipamento misto de museu e bar de apoio, permite preservar memórias, evocar as tecnologias de outros tempos e ajuda a compreender melhor o que foi a vida de gerações passadas nestes territórios. A oferta é hoje centrada na beleza natural e na vivência social, mas ficamos cientes que ali não chegaram, em tempo, as medidas suficientes para inverter o despovoamento.
Descobrir praias fluviais
A trajetória que o país conheceu em termos de serviços de saneamento e qualidade ambiental tem permitido uma consistente atribuição de bandeiras azuis, as quais são simbolicamente a representação da qualidade das nossas praias costeiras e fluviais. Esperamos que no futuro continuem a permitir a emergência de casos de sucesso um pouco por todo o país. Agora que muitos de nós se preparam para as férias e uns dias de descanso, diversão e descoberta, fica um desafio para uma visita às muitas praias fluviais de bandeira azul e ouro pelo país.
Relacionado com a qualidade das nossas águas e praias, referimos que a 3 de julho se assinala o “Dia Internacional sem sacos de Plástico”, que tem por objetivo chamar a atenção para a produção e para o consumo excessivo de sacos plásticos a nível mundial, apelar à mudança de comportamento das pessoas e propor alternativas ao plástico de uso único.
Estima-se que cada cidadão na Europa consome cerca de 500 sacos de plástico por ano, que acabam no lixo ao fim de meia hora de utilização, contribuindo para a poluição marinha. Apesar da gravidade da situação, apenas 2% da população mundial recicla sacos plásticos e por isso se entende como os nossos gestos e comportamentos são relevante contributo para estes sucessos coletivos.