ELEIÇÕES AMERICANAS

OBAMA: UM SEGUNDO MANDATO COM O ABISMO A ESPREITAR      

 

Reeleito numa América em que os antagonismos são cada vez maiores, Barack Obama tem pela frente o desafio económico mais complicado da sua vida na Casa Branca – impedir o fiscal cliff.

 

A luta era entre duas Américas. A América dos ricos, puritana, conservadora, contra a América tolerante, que defende o aborto e os casamentos homossexuais e que é pobre. Apesar de um sistema eleitoral que está longe de ser perfeito e em que a possibilidade de o candidato mais votado não ser o vencedor da eleição, Barack Obama teve que esperar várias horas, no dia em que os americanos foram às urnas, para ter a certeza de que tinha sido reeleito. As políticas sociais, a defesa de mais impostos sobre os ricos e o seu estilo descontraído valeram-lhe vários inimigos durante os quatro anos em que esteve à frente dos destinos dos Estados Unidos e o perigo de Mitt Romney voltar a levar os republicanos para a Sala Oval só se desvaneceu de vez já passava da meia-noite. Obama conseguiu segurar todos os estados-chave, incluindo a Florida, perdendo apenas o Indiana e a Carolina do Norte, conseguindo vantagem no colégio eleitoral e ainda uma ligeira vantagem no voto popular. O Senado será também democrata, mas a Câmara de Representantes será maioritariamente republicana. Um inquérito realizado no próprio dia das eleições mostrou que, para seis em cada dez votantes, a economia foi o tema mais importante da campanha, com a resolução do défice e do desemprego no topo das prioridades. Olhando assim de repente, quase que somos tentados a confundir os EUA com Portugal! Estes serão dois dos grandes monstros que Obama terá que resolver nos próximos quatro anos, sendo que durante a campanha anunciou que usaria duas medidas para conseguir reduzir o défice: taxaria mais os mais ricos, as empresas e os ganhos com investimentos financeiros.

 

Uma bomba-relógico com nome de penhasco

Mas a principal bomba-relógio dá pelo nome de fiscal cliff – “abismo fiscal” ou, à letra, “penhasco fiscal”. E a menos que o presidente agora reeleito o consiga até ao final do ano, será esse o caminho para onde se dirigem os americanos, com os impostos a dispararem para controlar o défice, depois de isenções e descontos lançados nos últimos anos para reanimar a economia. Para o conseguir, Obama terá que ser hábil nas negociações entre democratas e republicanos, tendo a noção de que herdou uma América dividida em duas e que a vitória sofrida contra Romney mostra bem que são muitos os americanos que não lhe reconhecem capacidade para tirar os EUA da crise financeira em que se encontra. (…)