EM QUEM 2013 DEPOSITA AS SUAS ESPERANÇAS
Para Portugal é um ano de dificuldades. A austeridade em 2013 é um dado adquirido, a grande dúvida é se será suficiente e que influência terão os vários atores políticos na mudança de rumo. Internacionalmente, os olhos continuam postos nos líderes europeus que verdadeiramente tomam decisões, sem esquecer os dois colossos: EUA e China
A coesão da coligação governamental – com Passos e Portas à cabeça – é uma das grandes expectativas com que os portugueses partem para 2013. As últimas divergências públicas a propósito de algumas decisões difíceis que o Executivo teve que tomar não deixaram grande margem para novas tensões na relação dos dois líderes. E o novo ano trará, certamente, grandes desafios para o Governo que lideram. Será em 2013 que cada um deles jogará o seu futuro, não só em conjunto, como separadamente. Em março, o sucesso ou insucesso da primeira execução orçamental do Orçamento 2013 será o primeiro teste à sua resistência, com a sétima avaliação da troika, em Fevereiro, a mostrar se o Governo tem ou não capacidade para fazer Portugal ultrapassar a crise. Refundar o Estado é outra das batalhas. E se resistirem a tudo isso, em outubro, quando forem as eleições autárquicas, tudo voltará a estar em jogo.
A chanceler alemã, que tem sido decisiva em toda a política europeia nos últimos anos, tem em 2013 um desafio interno: voltar a ganhar as eleições na Alemanha. E é nesta dupla vertente que Angela Merkel terá que se equilibrar: agradar ao povo alemão, pouco favorável a continuar a financiar os países em dificuldades, ao mesmo tempo que garante a sustentabilidade da zona euro e procura liderar as reformas e as decisões que se vão tomando no seio da União Europeia. Em François Hollande tem um aliado. Não tão próximo das suas ideias como era Sarkozy, mas ainda assim um parceiro estável. Resolver o problema da Grécia, garantindo que o país se mantém no euro, ao mesmo tempo que se procura impedir que outras economias, com destaque para a Espanha, entrem numa situação idêntica, é o grande desafio. 2013 será o tempo para preparar a Europa para as eleições de 2014, ano em que Hollande defende ser chegada a altura de se discutir uma verdadeira união política na UE.
Barack Obama continua a estar à frente dos destinos dos Estados Unidos, mas a reeleição foi apertada e o presidente vai tirar daí algumas lições. A primeira delas será, talvez, a de que não pode subestimar a economia e tem que decidir muito bem que tipo de Estado quer. Pela frente terá o Congresso e, apesar de partir em vantagem, não será fácil convencer os congressistas a aumentar os impostos sobre os mais ricos, quando o presidente não quer ceder na despesa. A dívida pública de 103% e o défice de 9,6% vão continuar a dar-lhe uma das principais dores de cabeça, com o pacote fiscal a ser o grande trabalho que tem pela frente. Para já, pediu ao Congresso que reduza os impostos para a classe média, na esperança de que isso aumente o crescimento económico e faça abrandar o desemprego.
Aos 59 anos, Xi Jinping será, a partir de março, o novo presidente da República Popular da China e a figura mais importante da hierarquia chinesa. Eleito recentemente secretário-geral do Comité Central do PCC, Xi Jinping sucederá a Hu Jintao e terá pela frente um grande desafio: modelar um discurso que convença uma nova classe média de 700 milhões de pessoas que cada vez se identifica menos com as máximas maoistas. No discurso da posse prometeu ao mundo um combate à corrupção no poder político asiático, bem como aos “formalismos” e à “burocracia”.
Ele é o treinador da Europa, o homem que tenta a nível diplomático que todas as peças se encaixem e lutem pelos mesmos objetivos. Em 2013, Durão Barroso terá, mais uma vez, um ano difícil. O problema da Grécia continua a não dar sinais de resolução, ao mesmo tempo que as fragilidades de Portugal, Irlanda, Chipre, Espanha e até Itália continuam a preocupar. Manter a coesão da zona euro e garantir que a Europa ultrapassa 2013 em unidade e incólume é o grande desafio do presidente da Comissão Europeia.
Acusado muitas vezes de estar em silêncio enquanto o Governo aumenta a austeridade sobre o povo, o Presidente da República pode ter, em 2013, o ano mais difícil desde que chegou a Belém. As pressões para que invoque o irregular funcionamento das instituições para demitir o Governo e investir um executivo de salvação nacional têm sido muitas e de vários quadrantes da sociedade. Mas será que Cavaco Silva terá essa coragem se o momento chegar ou até a capacidade de conseguir que os vários partidos se entendam, a ponto de irem juntos para um governo de iniciativa presidencial? As perguntas para o novo ano são muitas e o Presidente da República terá que estar atento a todos os pormenores.
O homem das contas do país tem pela frente a difícil tarefa de garantir que o Orçamento do Estado para 2013 é executável, ao contrário do que várias vozes já vieram reclamar. A execução orçamental de março será o primeiro grande teste à estratégia que desenhou, mas o ministro das Finanças é o primeiro a saber que sem uma reforma estrutural do Estado será impossível garantir a sustentabilidade das contas públicas. Pelo meio, Gaspar terá que garantir a sua estabilidade política, depois de algumas divergências internas no Conselho de Ministros, nomeadamente com o parceiro de coligação, o CDS.
O próximo ano pode ser o grande ano de António José Seguro. Ao manter-se intocável na liderança do PS apesar de todas as antevisões que o davam como um líder a prazo, o secretário-geral socialista conseguiu chegar a 2013 sem grandes contestações ao seu mandato e com o partido a ganhar terreno nas sondagens. Na Comissão Política de novembro já assumiu perante os militantes que é preciso preparem-se para eleições. A hipótese de o Governo não chegar ao fim do mandato e de Portugal ser obrigado a pedir um segundo resgate financeiro alimenta essa esperança, sempre com a certeza, várias vezes manifestada, de que não aceitará ir para um Governo sem que para isso seja legitimado popularmente. Com ou sem queda do Executivo, Seguro terá uma batalha eleitoral importante no próximo ano: as eleições autárquicas. E há quem veja nestas eleições a grande hipótese de os socialistas vencerem um ato eleitoral que tradicionalmente dá a vitória ao PSD. Mas para que tudo corra bem, será preciso resolver algumas lutas internas pelo poder.
O grande momento de António Costa em 2013 será, à partida, nas eleições autárquicas, lá para outubro. O presidente da Câmara de Lisboa deverá voltar a candidatar-se ao cargo e manter-se à frente dos destinos da capital é o seu grande objetivo. O PS dá quase como certa essa vitória, mas resta saber quem será o adversário que o PSD encontrará para disputar estas eleições. Além desta batalha, espera-se sempre de António Costa um sinal de que possa assumir os destinos do PS. À partida, tal cenário não se colocará até às autárquicas, mas em política, os cenários mudam todos os dias e há quem veja nele um dos nomes certos para um governo de iniciativa presidencial, já que Seguro recusa esta modalidade para chegar ao poder.
Voltar a ser considerado o Melhor Treinador do Mundo, trazer para Madrid o troféu de campeão de Espanha e de campeão europeu são os mais imediatos objetivos de José Mourinho para 2013. Mas para um treinador que já ganhou no Real Madrid todos os troféus que havia para ganhar e, conhecendo-se a sua faceta de procurar novas batalhas, a provável saída do clube madrileno no fim desta época, em junho, é bastante forte. Tendo ganho já os mais importantes campeonatos da Europa – Espanha, Itália e Inglaterra – a seleção nacional poderia ser um desafio. O próprio já disse que gostava de ser o primeiro a ganhar algo pelo emblema das quinas e o Mundial 2014 no Brasil pode ser um desafio tentador.
A primeira mulher a ocupar o mais alto cargo do Ministério Público terá que mostrar, em 2013, que tem fibra para o cargo e que pode trazer algo de diferente à magistratura. O primeiro grande desafio é garantir que é imune às pressões políticas e públicas nos processos mais polémicos. O mais imediato será, talvez, o processo Monte Branco, que já obrigou Joana Marques Vidal, com poucos dias de experiência no cargo, a ter que vir publicamente dizer que o primeiro-ministro Passos Coelho não é suspeito. Credibilizar o Ministério Público e promover a paz entre a estrutura, depois dos vários conflitos entre sindicatos e o anterior PGR, Pinto Monteiro, é outro dos grandes desafios para 2013. Pelo caminho continuarão a estar os megaprocessos em curso. É o caso da Operação Furacão, do processo dos submarinos – em que se investiga o desaparecimento de documentos do Ministério da Defesa à época de Paulo Portas – ou da investigação às Parcerias Público-Privadas.