PS

5SOBERANO NO PS, COSTA TESTA AGORA FORÇA NO PAÍS

Autarca de Lisboa venceu primárias a Seguro e tem agora vários meses pela frente até às legislativas de 2015. Antecipar a data é desejável, mas Costa está confiante na maioria absoluta em qualquer altura.

Foi desafiado, recusou. Voltou a ser desafiado e recuou. Desta vez, tomou a iniciativa e venceu. António Costa é o novo candidato do PS a primeiro-ministro e prepara-se para ser eleito secretário-geral dos socialistas já este mês. À “vitória de Pirro” que atribuiu a António José Seguro nas europeias, António Costa respondeu nas primárias com uma vitória esmagadora. Quase 70% do partido e simpatizantes deu-lhe o seu voto, calando de imediato qualquer oposição interna que se pudesse formar. E se a dimensão da vitória interna só por si já era motivo para preocupar os restantes partidos, o facto de ter sido eleito, pela primeira vez em Portugal, num processo aberto a simpatizantes, com mais de 150 mil portugueses inscritos, aumentou esse receio. Tanto à esquerda como à direita, as hostes tremeram perante aquilo que a vitória de Costa pode representar em termos de perda de eleitorado. As eleições legislativas são já em 2015, e até lá Costa tem um longo caminho para percorrer. A maioria “expressiva, clara e inequívoca” que recebeu, deu-lhe a confiança para garantir que a vitória interna nas primárias do PS foi apenas o “primeiro dia de uma nova maioria de Governo”. Mas para conquistar, de facto, o poder no próximo ano, o autarca de Lisboa tem ainda alguns desafios e etapas pela frente.

Compromissos só depois de ser Governo6

O primeiro deles é a sua relação com o Presidente da República e a tentativa que tem publicamente deixado notar de que as eleições legislativas ocorram mais cedo do que está previsto. Pouco depois de ser eleito, Costa ouviu Cavaco dizer que “só através de uma cultura de compromisso poderemos alcançar a indispensável estabilidade governativa” e avisar que “quem não for capaz de alcançar os compromissos necessários a uma governação estável, poderá alcançar o poder, mas dificilmente terá a garantia de o exercer por muito tempo”. No fundo, o Presidente já terá percebido que este novo PS não tem margem, nem intenção, de firmar compromissos com o atual Governo de Passos Coelho. Mas Cavaco também sabe que, a bem da estabilidade do país, o PS não se pode limitar a vencer as eleições: teria que garantir uma maioria absoluta – algo que Costa diz publicamente ambicionar e estar disposto a lutar, mas que poucos acreditam possível – ou então levar à prática aquilo que tem teorizado e que passa pela ideia de consensos alargados com os vários partidos do espetro político. Durante a campanha interna com Seguro, Costa recusou comprometer-se com qualquer tipo de coligação à direita ou à esquerda, mas desde que foi eleito, os seus esforços têm-se centrado sobretudo numa tentativa de aproximação aos pequenos movimentos da esquerda, como é o caso do Livre de Rui Tavares. Costa tem a sua estratégia: fará negociações e acordos com quem for possível fazer e da forma que precisar para governar. Daí que a ideia seja gerir esta sua autonomia para fazer escolhas até ao final, ou seja, até depois de ser eleito primeiro-ministro. No final da audiência com o Presidente, em Belém, assumiu como “importante que os diversos agentes políticos possam falar e que falem, falta muito diálogo em Portugal”, esse é “um fator importante para dar confiança e reforçar a tranquilidade e a certeza nas expectativas do futuro”.

Ouvir os especialistas

Mas o diálogo que Costa tem procurado nestas primeiras semanas à frente do PS tem sido sobretudo com a sociedade civil. Depois de os socialistas anunciarem oficialmente que vão votar contra o Orçamento do Estado para 2015, o autarca reuniu-se como 19 economistas para discutir a situação económica e financeira do país. OE, a necessidade de Portugal ter uma voz mais forte e firme numa Europa em que a Alemanha começa a ficar isolada na lógica da austeridade, e o olhar sobre o futuro e as questões ligadas ao crescimento económico foram os três temas mais consensuais nessa reunião. Costa quer ouvir e sobretudo manter-se na primeira linha da discussão sobre os principais temas do país. No final, é dele a última palavra. Certo é que o PS não vai ficar de braços cruzados a ver o Governo governar. Para já, pede um debate alargado sobre a dívida e quer com isto colocar o tema na agenda de forma central e estruturada. No início de novembro, saber-se-á qual é a estratégia mais programática do novo líder do PS, com a apresentação da Agenda para a Década. Uma moção que é aguardada com alguma expectativa, uma vez que, durante a campanha interna, Costa se recusou a assumir qualquer compromisso de candidato a primeiro-ministro. Internamente, a questão da união do partido parece estar relativamente calma. Pouco depois de ser eleito, Costa conseguiu firmar um acordo com a corrente segurista, liderada por Álvaro Beleza, garantindo-lhes um terço nos órgãos do partido e comprometendo-se a aproveitar as ideias que durante três anos foram sendo trabalhadas no PS. As diretas, onde se prevê que seja candidato único, serão o teste de fogo a essa união, bem como o congresso que se seguirá no final de novembro. Depois, será a hora de começar a construir pontes que lhe podem ser úteis quando for Governo. E Costa já demonstrou que sabe construí-las, contando na Câmara de Lisboa com uma rede alargada de apoios. Para já, fica na memória a promessa que fez no dia da vitória sobre Seguro: quer ser “a oposição que este Governo merece”, quer liderar a mudança que acredita que o país precisa.