CIDADE DO MÉXICO

UMA AVENTURA DOS SENTIDOS – A capital mexicana é um hino aos passeios a pé pelos parques e pelas ruas cheias de pessoas e encantos mil. Cidade do México, 8,9 milhões de habitantes. O número assusta, a cidade encanta. E de que maneira. Acredite, valem a pena as 13 horas de avião para chegar à cidade mais populosa da América do Norte. É toda uma realidade nova e enriquecedora – ou não fosse a história da capital mexicana profundamente ancestral. Fundada em 1325 e guardiã do valioso império asteca. Na esmagadora maioria das travessias do Atlântico, a chegada é sempre um stress do arco da velha. Ou o senhor da alfândega está maldisposto e faz-nos perguntas sem sentido, ou o nosso passaporte anda amuado e não entra como deve ser no aparelho eletrónico. Seja como for, o tempo de espera nas filas é um desassossego e as nossas pernas andam na corda bamba. Pois bem, esqueça Nova Iorque, São Paulo, Bogotá e por aí fora. Quando aterramos na Cidade do México, somos reencaminhados para uma fila minúscula e sempre a andar, tal a quantidade de guichés abertos. No frente a frente com a autoridade, é tu cá, tu lá, sem cerimónias e com sorrisos, um sedutor dois em um. Uma assinatura para aqui, um carimbo para ali, e já estamos no México. Nada de intrigas nem de olhares malandros, como que a tentar desvendar um defeito em nós. Tudo às claras, na boa. Aqui vamos nós. 

Motivos de interesse em todos os quarteirões – Se se instalar na zona de Anzures, é do best. Porque está meeeesmo entre dois bairros chiques, conhecidos pela sua beleza, imponência e segurança – sim, a Cidade do México também acumula defeitos, favelas e outros que tais. Se andar para cima, há Polanco. Se andar para baixo, é a Zona Rosa. Tanto um como outro merecem uma visita. Por dia, dizemos. Porque queremos sempre voltar para experimentar aquele restaurante, aquela loja, aquela rua ou aquele monumento. É um sonho. Qualquer passeio é uma aventura dos sentidos. Polanco, por exemplo, é um dos bairros mais carismáticos. Só com restaurantes, bares e esplanadas em cada esquina, mais lojas de marca a perder de vista. Ande, ande e ande sem preocupações, há motivos de interesse em todos os quarteirões. Se voltar para trás, não se arrependerá. Sobretudo se arriscar os becos transversais e paralelos, onde encontra maravilhosas relíquias, como um restaurante português cheio de pinta, dono de uma esplanada, se faz favor. Se quiser continuar em frente uma boa meia hora na direção certa, vai dar à estátua do Anjo da Liberdade. É um ícone, de uma beleza inimaginável. E é também a bandeira da resistência mexicana às inúmeras invasões, a última das quais dos nazis durante a Grande Guerra. O anjo transmite uma aura de tranquilidade e indica-nos o caminho. 

De bairro em bairro – Só depois de entortar o pescoço para sacar uma selfie devidamente enquadrada é que está autorizado a entrar na Zona Rosa, um bairro alternativo cheio de cores impopulares (rosa-choque, azul-golfinho, verde-turquesa, vermelho-esbatido), em que as ruas têm todas nomes de cidades. Em cada recanto, um sítio para espreguiçar. Seja uma sex shop, um barzito com pinturas alusivas ao Don Corleone ou um restaurante panorâmico de cinco estrelas e meia. Há de tudo e é-se sempre recebido com um sorriso de bienvenido. Se for simpático todo o tempo, lá aparece o muy amable. Adorável. Também o Bairro Roma tem uma série de maravilhas. Aqui, o imperdível é o mercado. Fascinante, a qualidade da oferta. E labiríntico. Se se perder, deixe-se levar. Se se encontrar, liberte-se dos prazeres da carne e descubra a Romita, um bairro dentro do bairro. Garantido, a palavra tempo desaparece do seu dicionário e só lhe apetece mergulhar na grata sensação de calcorrear as ruas mais modernas e habitadas que nunca (a Almirante Reis deles, vá). Mesmo ao lado, outro bairro mágico, o Condessa, cheio de juventude abastada, Art co e parques infindáveis, como o México e o España, outrora perigosos, agora a pedir uma visita. Acorda subitamente deste sonho dos bairros e quer outro tipo de vida. Muy bien, viaje 40 km até às pirâmides Sol e Lua de Teotihuacan, conhecida pela Cidade dos Deuses, a mais evoluída do planeta entre 500 e 600 anos a.C. A subida às ditas cujas merece uma contemplação como deve ser, prolongada e atenta. Parece o centro da Terra e a palavra tempo desaparece do seu dicionário. Se atingir esse estado de euforia, masque uma pastilha e volte à Cidade do México, mais precisamente ao Azteca 

O estádio mais glorioso do mundo – O que dizer? É o estádio mais glorioso do mundo. Ponto final. Parágrafo. O Azteca reúne o melhor Brasil de sempre, o do Mundial-70 (tadito do catenaccio da Itália na final, arrombado com um esclarecedor 4-1) e, claro, a Argentina de Maradona, a do Mundial-86. Dos cinco golos do 10 nesse mundial, quatro acontecem no Azteca. Nem interessa se é dia de jogo para fazer a visita ao estádio. O Azteca vazio é como se fosse uma pirâmide. O deslumbramento é total, a começar pela descida do túnel – é como entrar pelo milheiral adentro no “Campo de Sonhos”. O túnel é imenso, faz uma curva e tudo. Do lado direito, uma placa com todos os clubes e países participantes. O único representante português é o Benfica, com dois jogos (3-0 ao América, 4-0 do México, com penálti falhado por Eusébio). Mais à frente, já com uma das balizas no horizonte, um quadro cheio de fotografias a percorrer as décadas. Na de 1980, o pontapé de moinho de Negrete com a seguinte inscrição: “o golo mais belo”Jajajajajaja. Dos de Maradona, nem uma referência. Também há Papa João Paulo II, U2, Michael Jackson, Shakira, entre outros.