O FUTURO DA NOSSA ECONOMIA
Em tempo de aniversário dos editores desta revista, a quem felicito pela qualidade que sempre imprimiram nas suas publicações, gostaria de aproveitar este espaço, que me é oferecido, para deixar algumas considerações sobre o futuro da nossa economia e os desafios que temos de vencer.
Os problemas e bloqueios com que nos confrontamos – nomeadamente o desemprego e o endividamento, público e privado – só poderão ser ultrapassados se formos capazes de atingir taxas de crescimento económico mais elevadas, pelo menos na ordem dos 3% ao ano. Mas esse crescimento, para ser sustentado, deverá tornar-se consistente com um modelo de economia competitiva, assente em aumentos da produtividade. Tal não se verifica ainda, tendo-se observado, desde o início do século, uma dinâmica muito fraca da produtividade do trabalho, dinâmica essa que persiste na atual fase de recuperação económica. Em 2016, registou-se mesmo uma redução da produtividade do trabalho e as previsões apontam para uma queda ainda mais pronunciada em 2017. Esta tendência põe em risco a sustentabilidade da recuperação económica, sobretudo quando começam a surgir sinais de aumentos de custos, nomeadamente salariais, que não sendo suportados por ganhos de produtividade, tendem a penalizar a competitividade externa da economia. Destacaria, assim, dois grandes desafios, aliás profundamente interligados, que se nos apresentam: • numa perspetiva interna, o desafio da produtividade; • numa perspetiva externa, o desafio dos mercados globais, onde o perfil e as exigências do consumidor evoluem constantemente e a transformação digital está a revolucionar a generalidade da produção e, em particular, a indústria.
Desafio dos mercados globais
O desafio dos mercados globais é, para mim, evidente, porque a reduzida dimensão do mercado nacional faz com que o caminho do crescimento e do sucesso nas empresas produtoras de bens e serviços transacionáveis tenha que passar, hoje mais do que nunca, pela internacionalização. Reforçar a internacionalização é, por isso, um objetivo fundamental, que requer um esforço conjunto das instituições públicas, das empresas e das estruturas associativas que as representam. Mas internacionalizar só será possível com competitividade, alicerçada em inovação e em ganhos de produtividade. Não venceremos o desafio dos mercados globais se não vencermos o desafio da produtividade. Para isso, é preciso mais investimento – indispensável à incorporação de inovação nos produtos e nos processos – e melhores qualificações – já que os recursos humanos são o principal fator de diferenciação e de sucesso de qualquer empresa ou de qualquer nação. Se é certo que o investimento está, agora, a aumentar a bom ritmo, está ainda muito longe de compensar o seu mau desempenho desde o início deste século. O seu peso no PIB é o mais baixo de toda a União Europeia, com a exceção da Grécia.
Investimento privado
No que respeita ao investimento privado, identifico duas condicionantes fundamentais: o financiamento e a fiscalidade. As dificuldades no financiamento à atividade empresarial continuam a constituir um sério constrangimento a um relançamento mais forte do investimento. O stock de crédito interno às sociedades não financeiras continua em queda, o que é consistente com o processo de desalavancagem das empresas (sendo de realçar o esforço de capitalização levado a cabo por muitas delas), mas reflete, por outro lado, a manutenção das suas dificuldades no acesso ao financiamento bancário. Ora, uma das fragilidades estruturais do nosso tecido empresarial é a excessiva dependência de crédito bancário, sobretudo de curto prazo. Esta situação exige respostas integradas que reduzam os elevados rácios de crédito em incumprimento e promovam a reestruturação financeira das empresas e a sua recapitalização.
Fiscalidade
Em relação à fiscalidade, a tendência crescente da carga fiscal em Portugal nos últimos 20 anos ainda não foi invertida e há muitos aspetos em que o nosso sistema fiscal se mostra desfavorável à competitividade externa e à atratividade da economia nacional. Reduzir a carga fiscal sobre as empresas e tornar o sistema fiscal português mais competitivo, mais previsível e simples, são objetivos fundamentais para relançar duradouramente o investimento. Quanto à qualificação dos recursos humanos, é verdade que os jovens portugueses entram hoje no mercado de trabalho com um nível de escolaridade muito superior ao das gerações anteriores, mas Portugal é ainda o país da União Europeia com a mais alta percentagem de baixas habilitações no total da população empregada. Esta realidade justifica que a prioridade seja colocada na formação de ativos e no desenvolvimento de competências através da aprendizagem ao longo da vida. Tanto mais que a velocidade a que se processam as transformações tecnológicas fará desaparecer ou reformular profundamente, em poucos anos, muitas das atividades profissionais que hoje conhecemos. Mais do que formar trabalhadores para as profissões atuais, temos de lhes fornecer um conjunto de competências que lhes garantam a empregabilidade ao longo da sua vida ativa. É certo que muitos dos recentes indicadores económicos nos têm sido favoráveis. No entanto, devemos olhar para eles numa perspetiva mais abrangente e de longo prazo, para não cairmos em atitudes de complacência, que poriam em causa o caminho até aqui percorrido. Dar por adquirido o que ainda não está alcançado seria, no mínimo, imprudente.