Alexandre Relvas, CEO da Logoplaste, é actualmente um dos empresários mais bem sucedidos do nosso país. Tendo vivido em África até aos 17 anos, este continente deixou-lhe marcas que nem o tempo foi capaz de apagar. Talvez por isso tenha encontrado no árido Alentejo, mais propriamente no Redondo, algum sentido de pertença, bem como recordações de outros tempos. Identificou-se não só com as pessoas, como também com os costumes e sobretudo a paisagem. Desta sua aposta no Sul de Portugal, surge um outro tipo de ocupação, mais ligada à terra e à vinicultura. Já com 10 anos de existência, a Herdade de São Miguel produziu este ano um milhão de garrafas e a empresa espera duplicar este número nos próximos cinco anos. Muito ligado à família, Alexandre Relvas crê que a felicidade passa por fazer feliz os que lhe são próximos e, talvez por isso, a sua prioridade sejam os seus cinco filhos. Por tudo isto, não é de estranhar que não lhe sobre muito tempo para se dedicar à política. Embora considerado, por muitos, um dos mais fortes candidatos do PSD a primeiro-ministro, a verdade é que, tal como refere, não está disposto a “dedicar mais tempo à política”.
Acha que o facto de ter nascido em Angola influenciou de alguma forma o seu percurso de vida? Em que aspectos?
Eu acho que influenciou profundamente. Vivi em Angola até aos 17 anos e todas as recordações que tenho da infância e da adolescência estão relacionadas com esse período e com a vida em África. Por outro lado, tenho avós que nasceram em África e outros que foram ainda adolescentes para lá, e isso marcou profundamente a história da minha família, o sentido de vida que nos foi transmitido, os valores e as referências. Por outro lado, África marcou-me verdadeiramente no momento do regresso, da vinda para Portugal. Eu sou retornado, faço parte dos 600 mil portugueses que com a descolonização tiveram que abandonar rapidamente Angola e Moçambique e todas as outras colónias. Foi muito traumatizante, porque viemos para Portugal, que conhecíamos mal, onde não tínhamos integração familiar, e os amigos perderam-se. Tudo isso obrigou a uma renovação de vida. Mais tarde, senti também que me marcou, pois, ao contrário da generalidade daqueles que aqui nasceram, eu não tinha a minha terra, a minha comunidade, um espaço que fosse para mim de uma ligação muito forte. Foi o que procurei encontrar no Alentejo, onde me identifiquei fortemente com a paisagem, a cultura e as pessoas.
Como surgiu a sua ligação à Logoplaste?
Fui convidado para a Logoplaste pelo Filipe de Button, que foi meu colega na Universidade Católica. Desde o período em que estávamos na universidade, talvez influenciados pelo facto de ambos descendermos de famílias com uma vida empresarial muito activa, queríamos fazer algo em conjunto. Ainda universitários, nos últimos anos, começámos um projecto – de representação de bancos internacionais –, no qual trabalhámos algum tempo e que depois permitiu que tivéssemos uma ligação ao mundo financeiro e fosse esse o nosso centro de vida durante, pelo menos, 10 anos. Quando saí do Governo, em 1996, ele fez-me o convite. A Logoplaste estava na sua internacionalização e fiquei muito entusiasmado com o potencial que existia. Não há dúvida de que a Logoplaste é um projecto único, que resulta de uma ideia extraordinária do seu fundador, Marcel de Button, um homem à frente do seu tempo e que ainda hoje é profundamente inspirador para a actividade que nós vamos desenvolvendo na empresa.
Quais são os principais mercados desta empresa?
Actualmente, a Logoplaste é uma empresa muito internacionalizada, estamos presentes em 17 países. Brasil, Inglaterra, França e Espanha são os nossos principais mercados, para além de Portugal, naturalmente. Mas Portugal já começa a pesar menos de 20% da nossa actividade, menos de um quinto. Os mercados onde pensamos que, de futuro, vamos ter maior desenvolvimento, atendendo à situação da economia europeia, além do Brasil, encontram-se em toda a América do Norte – estamos hoje no Canadá, nos Estados Unidos e no México, e consideramos que esses países têm um enorme potencial de crescimento. Não podemos também esquecer a Europa de Leste, onde estamos presentes na República Checa, na Ucrânia e na Rússia. Mas pensamos que, para além destes países que vão ter taxas de crescimento além da Europa Ocidental, a Polónia, por exemplo, pode também representar um importante mercado para a Logoplaste. Temos como aposta continuar a crescer, pelo menos 15% ao ano. Essa foi a taxa de crescimento, praticamente, nos últimos 15 anos e queremos continuar a mantê-la e a acentuar a globalização. Queremos ser uma empresa de referência mundial no nosso sector.
A Logoplaste está a sofrer as consequências da conjuntura actual?
Tivemos, tal como a generalidade das empresas, que tomar medidas para manter a nossa competitividade. O facto de termos uma grande dispersão geográfica fez com que não sofrêssemos tanto como teríamos sofrido se estivéssemos apenas em Portugal ou na Europa Ocidental. A América do Sul e do Norte compensou, em termos de crescimento, uma parte de perdas de mercado que tivemos, especialmente em Portugal. (…)