OS ANCESTRAIS PROVÉRBIOS CHINESES, designados de chengyu, são uma forma didática de transmitir pensamentos de acordo com a sabedoria da cultura do povo oriental, ainda hoje com plena aplicabilidade, nomeadamente no provérbio chinês “Um momento de paciência pode evitar um grande desastre, um momento de impaciência pode arruinar toda uma vida”.
Por falar em paciência, volvidos cerca de cinco meses de guerra na velha Europa e atentos à movimentação do xadrez geopolítico mundial, é curioso verificar a postura da República Popular da China, no sentido das suas tomadas de posição na ONU, tendo em conta a sua contenção ou oposição às sanções económicas aplicadas à Federação Russa, quer quanto à contestação da invasão ilícita em termos de direito internacional. Todos assistimos, em 25 de fevereiro de 2022, no Conselho de Segurança da ONU, à resolução que pedia a condenação à invasão da Ucrânia por parte da Federação Russa, a qual recebeu o voto favorável de 11 dos 15 membros do Conselho, verificando-se que a Federação Russa foi a única do Conselho de Segurança a votar contra, com a qualidade de presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tendo-se verificado abstenções por parte de três países, China, Índia e Emirados Árabes.
Já em 24 de março de 2022 o Conselho de Segurança da ONU rejeita a resolução proposta pela Federação Russa sobre a situação humanitária na Ucrânia, tendo obtido o voto favorável da China. Por outro lado, em 7 de abril de 2022, foi aprovada a resolução que suspende a Federação Russa do Conselho de Direitos Humanos da ONU, com voto contra da China.
Grandes Potências Económicas
Ora, estas supostas aparentes “contradições” no sentido de voto por parte da República Popular da China na ONU não devem ser interpretadas ou valoradas como tomadas de posição face a esta nova realidade no xadrez geopolítico mundial, antes pelo contrário, a República Popular da China, como grande potência económica que conhecemos atualmente, é a única que pode fazer face à grande potência económica dos Estados Unidos da América. Não tenhamos qualquer dúvida de que a República Popular da China, neste contexto económico, não hesitará em associar-se a mercados altamente modernos e consumistas. Bastará verificar que a Federação Russa detém atualmente cerca de 146 046 610 habitantes, sendo que os Estados Unidos da América detêm cerca de 329 500 00 habitantes e a União Europeia cerca de 447 700 000 habitantes, sendo que o “apetite” de consumo é brutalmente desmesurável, comparado com a Federação Russa, que tem um mercado composto por apenas duas cidades com capacidade de consumo (Moscovo e São Petersburgo), pois toda a sua extensão geográfica é composta por um mercado de consumo sem qualquer poder de compra.
Projeto económico para a China
Posto isto, e a propósito da “paciência de Chinês”, a mesma é posta a toda a prova quando, nas declarações do presidente chinês Xi Jinping sobre a ambiciosa plataforma de medidas e reformas com a qual se prepara para renovar o seu mandato, pretende colocar o país nos próximos anos numa “nação socialista moderna” até 2035, e até 2049 numa grande potência “próspera” e “forte”, mediante o incentivo ao consumo interno, autossuficiência nos setores que considera estratégicos e a transformação da China num país líder em inovação, que exporte tecnologia para outras nações, pretendendo colocar a Re- pública Popular da China na qualidade de grande potência económica a par dos Estados Unidos da América. Simplificando isto, na presente data esta- mos a verificar a implementação de um projeto económico pensado à distância de 27 anos, quando o mundo ocidental con- tinua a projetar as suas políticas macroe- conómicas, na maioria das vezes, a cinco anos de distância… Não será que o mundo ocidental necessitaria de um momento de “paciência”?