O PROJETO EUROPEU – Europa pós-Covid. Este ano celebrámos de forma diferente o Dia da Europa. O 9 de maio, que celebra a Declaração Schuman e o dia que sucede o 8 de maio, data em que a II Guerra acabou na Europa. Mas celebrámos de forma diferente. Celebrámos o Dia da Europa de forma diferente, não na Europa dos cafés (evocando aqui George Steiner, na primeira vez que evocamos a data na sua ausência), mas sim numa Europa confinada, que teve até de suspender algumas das liberdades essenciais, à cabeça a liberdade de circulação. Mas talvez por isso se torne ainda mais importante regressarmos à nossa Europa, à nossa ideia de Europa (mais uma vez recorrendo a George Steiner). Não a Europa dos cafés, mas a Europa dos telemóveis, das videoconferências, das tecnologias e das comunicações eletrónicas. E esta rápida adaptação aos tempos da pandemia demonstra que aquela que é para muitos a “Velha Europa” tem, nos seus povos e cidadãos, a agilidade, rapidez e flexibilidade para chegar mais longe e para se adaptar às contingências deste mundo que nos é dado a viver.
Capacidade para reagir – A União Europeia perdeu muito tempo desde a última crise até esta crise. A União europeia (e bem) pediu aos Estados-membros que fizessem reformas estruturais, mas esqueceu-se ela própria de fazer algumas das reformas mais importantes para garantir que, num cenário de crise, a zona euro está preparada e capacitada para reagir. É verdade que conseguimos criar instrumentos muito importantes, como o Mecanismo de Estabilidade, mas ainda não conseguimos concluir a arquitetura da zona euro e ainda não conseguimos um consenso para criar o Mecanismo de Garantia de depósitos, essencial para garantir um financiamento são e correto da nossa economia. Este é o momento para sermos audazes, para sermos ousados e ir mais longe. Este é o momento para concretizar as reformas que são necessárias para podermos reagir com mais robustez às crises, simétricas e assimétricas, que vamos ter pela frente.
Proteger postos de trabalho – E vamos ter muito pela frente. Preocupa-me particularmente o impacto social que esta crise vai ter, especialmente na dimensão do emprego. É fundamental que avancemos rapidamente para um esquema de seguro de subsídio de desemprego ao nível europeu. Cada um dos Estados-membros tem, ao nível nacional, mecanismos próprios de proteção no desemprego ou na redução da atividade. Mas perante choques assimétricos, é importante termos formas de proteção ao nível europeu. Mecanismos que ajudem os Estados-membros a proteger as pessoas, a proteger os trabalhadores, as empresas, os empreendedores e a salvar a economia. A aprovação do SURE, um pacote de apoio para atenuar os riscos do desemprego ao nível europeu, no valor de 100 mil milhões de euros, é uma ótima noticia. É apoiando quem cria e mantém postos de trabalho que conseguiremos que a crise seja menor e que a nossa capacidade de recuperação seja maior e mais rápida. Agora é o tempo de fazer este dinheiro chegar à economia. A velocidade nestes processos é essencial. É a única forma de proteger postos de trabalho, que significa proteger pessoas, proteger famílias, e não as deixar cair em situações de vulnerabilidade e pobreza.
Projeto de solidariedade – A União Europeia é um projeto de solidariedade. E é numa altura como esta que as pessoas mais precisam dela. Infelizmente, a maior crise que a União viveu nos últimos anos foi a falta de solidariedade. Falta de solidariedade na crise das dívidas soberanas, falta de solidariedade na crise humanitária dos refugiados, que rapidamente evoluiu para uma crise institucional. A Europa, a União Europeia, tem de agir com rapidez e determinação na crise provocada pela pandemia do Covid-19. E tem de saber ser solidária, sob pena de muitos dos nossos concidadãos passarem a olhar para o projeto europeu não como uma oportunidade, mas sim como um fardo. Está nas nossas mãos a capacidade de saber fazer diferente. De rapidamente fazermos as reformas que a União Europeia precisa e tomarmos as medidas que salvaguardem as famílias e a economia. Desta vez não podemos falhar.