MIGUEL GUIMARÃES

CELEBRAR O PRESENTE E PREPARAR O FUTURO – Esta edição da revista FRONTLINEé especial porque comemora o seu 15.º aniversário. E nesta celebração do presente, permitam-me que introduza uma visão de futuro. De um futuro que, em todas as áreas do conhecimento, deve ser preparado, planeado e refletido.

Não seria possível iniciar este artigo de outra forma senão a dar os meus sinceros parabéns a toda a equipa envolvida neste projeto numa altura em que completa década e meia de existência. A FRONTLINE tem, em cada número, a visível preocupação de oferecer pistas ao país sobre o nosso futuro em comum. A cada edição, lemos hoje aquilo em que temos de pensar para o nosso amanhã. É isso que a torna especial e numa publicação de referência nas áreas da economia, dos negócios, da política e do lifestyle. Mas a FRONTLINE não se esgota neste campo e vai mais longe. Recolhe inputs de personalidades também da cultura, das artes, da inovação, da tecnologia e, claro, da saúde. É essa transversalidade que lhe tem conferido cada vez mais alcance e leitores. Porque, como afirmou o nosso Nobel da Literatura, José Saramago, “o conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos”. Ler é, de facto, poder e partilha de conhecimento. Para nós, leitores, tem sido um priviLégio poder testemunhar, ao longo destes 15 anos, excelentes entrevistas, artigos de opinião e outras tantas matérias intemporais. Queremos continuar a folhear as páginas da revista e a ler os caracteres na versão digital por muitos mais anos. Tenho a certeza que continuarão a fazer este trabalho com a excelência a que nos têm habituado.

UMA VISÃO DE FUTURO

Nesta celebração do presente, permitam-me que introduza uma visão de futuro. De um futuro que, em todas as áreas do conhecimento, deve ser preparado, planeado e refletido. Temos de saber para onde vamos, para podermos decidir como e quando vamos. Isso é tão verdade no jornalismo e na comunicação como também o é na saúde e na medicina. Para ilustrar esta ideia, recorro à célebre frase de um dos pais fundadores dos Estados Unidos, Benjamin Franklin: “falhar em preparar-se é preparar-se para falhar”. Na Ordem dos Médicos temos a preocupação de pensar e refletir no país em que vivemos e na saúde à qual os nossos cidadãos têm, ou não, acesso. Faz parte das nossas atribuições – legais, morais e éticas – fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para defender a qualidade da medicina portuguesa, para garantir que os nossos médicos continuam a ter uma formação de excelência ou para exigir ao poder político que os nossos doentes possam ser tratados com todas as condições e com toda a dignidade que merecem. Tais desígnios não nos permitem ficar em silêncio quando as coisas estão menos bem, mas fazem-nos ter uma motivação diária e constante para sermos parte da solução e colocarmos o nosso conhecimento, enquanto médicos, disponível para o diálogo com os decisores, assim eles o queiram aproveitar. Mas queremos continuar a fazer ainda mais e melhor, de olhos postos no futuro. É por isso que o 24.º Congresso da Ordem dos Médicos, que se realiza nos dias 1, 2 e 3 de abril de 2022, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, vai analisar os principais “Cenários para 2040” e a “Medicina no tempo pós-Covid”. Neste congresso, vamos projetar a medicina e a saúde do futuro. Em todas as suas vertentes. Porque se queremos que o nosso Serviço Nacional de Saúde se torne verdadeiramente competitivo, atraindo e valorizando os médicos com condições que acompanhem o resto da Europa, não podemos continuar a fazer o mesmo de sempre. Além disso, vamos também projetar como podemos colocar o cidadão (verdadeiramente) no centro de todo o sistema de saúde, criando sinergias, parcerias e contingências para que ninguém fique para trás e para que a equidade do acesso à saúde em Portugal volte a ser, finalmente, uma realidade plena. Sem listas de espera intermináveis e sem que o código postal das pessoas seja determinante para o tipo de cuidados a que acabam por ter acesso. Com um programa repleto de pessoas verdadeiramente extraordinárias, algumas até fora da área da medicina, vamos privilegiar uma visão multidisciplinar que nos obriga a pensar com horizontes mais alargados.

VIAJAR ATÉ 2040

Porque as profissões da saúde também estão a mudar e não podem ficar paradas no tempo, vamos ter de trabalhar, cada vez mais, com outros perfis que, com a liderança clínica dos médicos, possibilitem mais e melhores cuidados aos nossos doentes. Numa perspetiva que nos leva numa viagem até 2040, é inegável que a tecnologia vai acabar por ser um dos temas mais falados. Mas permitam-me que os diga, sem descurar a importância que a inteligência artificial e as máquinas vão ter e já têm: nada substitui o Homem, nem ocultará o médico. Porque um médico nunca deixará de o ser. E um doente nunca deixará de precisar de nós. A humanização da medicina será, também ela, uma prioridade em 2040. Em 2040, espero poder ler a edição do 33.º aniversário da revista FRONTLINE, a o mesmo tempo que constatarei que a medicina estará bem entregue aos médicos do futuro – muitos dos quais são já os do presente. Profissionais que estarão ainda melhor preparados e terão mais meios para tratar todos os doentes da melhor forma que podemos imaginar, aproveitando a tecnologia, sem abdicar do toque e da empatia que, tantas vezes, é o último reduto da humanidade. É uma visão otimista, mas possível. Preparemo-nos agora para sermos todos melhores amanhã.

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