O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE NA SAÚDE
A Comissão Europeia divulgou em novembro de 2022 a estratégia da União Europeia para a saúde a nível mundial para melhorar a segurança sanitária a nível global e assegurar a prestação de melhores cuidados de saúde a todos.
A estratégia da União Europeia para a saúde apresenta três prioridades inter-relacionadas para fazer face aos desafios em matéria de saúde: melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas ao longo da vida; reforçar os sistemas de saúde e promover a cobertura universal dos cuidados de saúde; prevenir e combater as ameaças para a saúde, incluindo as pandemias, aplicando uma abordagem “Uma Só Saúde”.
Em Portugal, continua a não existir um plano nacional que sirva os mesmos objetivos. Um plano que permita conquistar a confiança e renovar a esperança dos doentes e dos profissionais numa política de saúde que seja consistente, objetiva e compreensível para todos os cidadãos e para quem cuida de nós. Um plano que possa ser partilhado pelos partidos políticos do arco da governação (PSD e PS) e possa ser desenvolvido e concretizado para além dos ciclos políticos. Que coloque a saúde das pessoas em primeiro lugar.
Um plano que inclua a criação de um Instituto Público Nacional exclusivamente para a promoção da saúde, prevenção da doença e literacia em saúde, também com a missão de educar os cidadãos a utilizar corretamente os serviços de saúde. Um Instituto que seja independente, tenha orçamento próprio adequado à sua missão e tenha na sua direção profissionais de diferentes áreas estratégicas que permitam um trabalho coordenado em equipa para alcançar o principal objetivo de termos uma população mais saudável e menos doente.
Uma estratégia global
A educação, a arquitetura, a engenharia, a medicina e outras áreas da saúde, as autarquias, o ambiente e os doentes constituem áreas essenciais que devem estar presentes no desenvolvimento de uma estratégia global, com programas de educação para a saúde, que se inicia nas escolas, continua no ensino politécnico e nas universidades, envolve as cidades e municípios saudáveis (cidades que caminham e cidades 15 minutos), tem a marca das engenharias, incluindo a bioengenharia e as tecnologias de informação, e expande-se a todas as unidades de saúde e a todas as autarquias, tendo como base a proteção do ambiente e das pessoas. Em que o exercício físico, a alimentação saudável, as atitudes saudáveis e os rastreios possam ser uma prioridade absoluta.
Começar a fazer a diferença
Mas não é suficiente pensar a sustentabilidade a médio e longo prazo. É necessário ir mais longe e adotar medidas que possam desde já começar a fazer a diferença. Até por uma questão de sobrevivência do próprio SNS.
Recuperar e modernizar o SNS, torná-lo competitivo e capaz de liderar a cooperação saudável, regulada e fiscalizada, com os setores social e privado. Centrar os serviços de saúde nos cidadãos. Assumir a transformação digital com implementação do processo clínico único, da medicina à distância e IA (Inteligência Artificial), de vias verdes entre cuidados de saúde. Mitigar tarefas administrativas e burocráticas ou transferi-las para outros profissionais e simplificar processos e procedimentos informáticos, dando mais tempo aos médicos para o exercício da medicina.
Integrar cuidados de saúde entre hospitais e centros de saúde (vias verdes para doenças graves e comunicação digital entre médicos para evitar circulação desnecessária de doentes). Aumentar a capacidade, integrar e simplificar o acesso a cuidados continuados e paliativos. Implementar um novo modelo de gestão no SNS que permita mais autonomia, mais governação clínica e flexibilidade na gestão, planeamento e organização dos hospitais e ACES (Agrupamento de Centros de Saúde).
Aumento da atividade em cirurgia ambulatória e de um dia, gestão crítica e otimizada de blocos operatórios, internamentos e consultas. Aumentar a taxa de hospitalização domiciliária. Reforma do serviço de urgência e emergência médica envolvendo a educação em saúde, o sistema de triagem, o INEM, os hospitais, os cuidados de saúde primários e a gestão crítica de doentes crónicos (através dos médicos de família e de medicina interna).
Mais medidas a promover
Implementar uma campanha nacional “serviço de urgência seguro”, para educar os cidadãos na utilização dos serviços de saúde. Completar a reforma da saúde pública, libertando estes médicos de tarefas paralelas que os impedem de exercer a sua atividade em pleno. Desenvolver as potencialidades da Medicina do Trabalho (saúde ocupacional). Combater o desperdício e as ineficiências na gestão de recursos.
Acelerar e adaptar a reforma dos cuidados de saúde primários, implementando mais USF modelo B e utilizando a possibilidade de usar USF modelo C, para que todos os utentes possam ter acesso a médico e equipa de família. Captar ensaios clínicos internacionais, com todos os benefícios que podem ter para os doentes, para a economia do país e para a investigação. Reforçar os cuidados de saúde e medicamentos de proximidade.
Incluir no plano orçamental a existência de orçamentos plurianuais e implementar uma lei de meios para garantir a concretização de atividades e investimentos considerados estratégicos, para aumentar a capacidade de resposta e renovar o parque de equipamentos. Criar condições através das carreiras profissionais e do Novo Relatório sobre a Carreira Médica, para captar mais capital humano para o SNS. Criar incentivos para captar médicos e outros profissionais para as áreas mais carenciadas.
No 16.º aniversário quero felicitar, na pessoa do Nuno Carneiro, líder da excelência editorial, toda a equipa que faz acontecer a revista FRONTLINE. Obrigado.