MARIA DE BELÉM ROSEIRA

2025, TEMPO DE INCERTEZAS

Se algo caracteriza a época atual é a rapidez com que ocorrem fenómenos com impacto global que modificarão inexoravelmente o nosso modo de vida. E sendo errática a sua direção, ela torna-se dificilmente perscrutável, o que significa que as consequências decorrentes são difíceis de prever em toda a sua extensão. Esta transformação ocorre em várias dimensões, desde a arquitetura dos fundamentos da sociedade em termos de princípios e valores construídos e aperfeiçoados ao longo de milénios, aos mais recentes mecanismos institucionais de convivência entre povos construídos na sequência da II Guerra Mundial em benefício da paz.

Na verdade, a evolução acelerada das novas tecnologias conjugada com a concentração da riqueza puseram ao dispor de alguns – muito poucos – mecanismos de controlo global com potencial destrutivo que dão origem a novas formas de poder que, por sua vez, põem em causa os princípios basilares da democracia e investem em desequilíbrios geopolíticos geradores de novos focos de tensão de difícil gestão. Como consequência, todos os analistas sublinham a insegurança e incerteza como novas realidades com as quais conviveremos e, cada uma a seu nível, nos desafiará como nunca em nenhum outro momento da História da Humanidade, exceção feita aos fenómenos naturais que moldaram o planeta tal como ele nos foi transmitido.

Ora, precisamente um dos impactos mais assustadores que várias transformações que os processos de desenvolvimento adotados determinaram foi o dos estragos causados na “nossa casa comum”, que são origem e alimento de fenómenos naturais cada vez mais destrutivos com os quais estamos a ser confrontados com cada vez maior frequência nos quatro cantos do mundo. E quando os equilíbrios a que obedecem a leis da natureza são rompidos, corremos sérios riscos de incapacidade de conseguir repô-los a um nível aceitável.

Aquilo que está verdadeiramente em causa são os direitos das gerações futuras, cuja revolta pode conhecer dimensões ainda não experimentadas. Neste contexto, as novas tecnologias são um instrumento central. O seu potencial positivo pode, com muita facilidade, ser desequilibrado negativamente. E essa é uma nova ameaça cujo controlo depende da capacidade coletiva para identificar riscos e tomar as medidas adequadas para os controlar.

Do ponto de vista político, aquilo que se antevê de conjugação na maior potência mundial de ligação estreita entre inteligência sobre-humana ao serviço de interesses pessoais com ambição desmedida no plano político por parte de quem não conhece princípios e valores e coloca ao mesmo nível, fazendo-as equivalerem-se, a verdade e a mentira, não pode tranquilizar-nos. Por tudo isso convirá acompanharmos com atenção a já tradicional reunião do Forum Davos do mês de janeiro, como grande montra das tendências a nível global em termos de geopolítica e economia.

A McKinsey, que acompanha como parceiro estratégico esta realização sob o lema, este ano, “Colaboração para a Idade da Inteligência”, identificou como prioridades centrais de discussão, as seguintes: “Reconstruir a confiança; Reimaginar o crescimento; Salvaguardar o planeta; Indústrias na era da inteligência; Investir nas pessoas.” A perspetiva será a de se comprometer no sentido da promoção de diálogos construtivos e prospetivos, que identifiquem compromissos com soluções orientadas para o impacto, que contribuam para um mundo melhor focado num crescimento sustentável inclusivo”. E, neste contexto, para a McKinsey, terão que ser abordadas questões como “a transformação da Inteligência Artificial, a resiliência e a geopolítica, a transição energética, a saúde da mulher, a liderança no século XXI e o espaço”.

Espero que se consigam atingir compromissos focados no dever de fixação de metas claras e exigentes de não continuação do caminho de predação por apenas alguns, cada vez menos, dos recursos que são de todos e que se perceba que a redução das desigualdades tem que ser inequivocamente o compromisso chave para garantia do desenvolvimento que conjuga a justiça social com a construção da paz duradoura.

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