LUÍS PISCO

SAÚDE E SISTEMAS DE SAÚDE 

Com a generalização de notícias sobre problemas com a prestação de cuidados de saúde um pouco por todo o mundo, muitos se questionam sobre quais serão os melhores sistemas de saúde e quais as razões do seu sucesso. 

A Noruega, os Países Baixos e a Austrália ocupam o topo da lista dos melhores sistemas de saúde do mundo, de acordo com um relatório recentemente elaborado pela Commonwealth Foundation, uma conhecida fundação norte-americana. O Serviço Nacional de Saúde inglês liderava a classificação no relatório anterior, elaborado em 2017, mas, desde então, caiu para o quarto lugar. O sistema de saúde dos Estados Unidos ficou em último lugar, uma posição que ocupa desde a primeira classificação em 2004. 

O estudo avaliou o desempenho dos sistemas de saúde de 11 países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. Em geral, o relatório da Commonwealth Foundation mostra que os países com melhor desempenho ao nível da saúde são os que oferecem cobertura universal de saúde, removeram as barreiras do custo, investiram em cuidados primários ao nível da comunidade, nomeadamente numa rede de médicos de família, e reduziram a carga administrativa dos complexos sistemas de financiamento que pesam sobre as pessoas e as equipas médicas. Investiram ainda em serviços sociais como creches, transportes, segurança, habitação e benefícios para os trabalhadores. Estes elementos favorecem uma população mais saudável onde há menos procura desnecessária de cuidados de saúde. 

EXEMPLO SEGUIDO POR MUITOS 

Bismarck e Beveridge são os sistemas de saúde que prevalecem na Europa e que se baseiam na universalidade, na solidariedade e na equidade. Portugal tem um sistema predominantemente Beveridgiano e por isso temos um interesse especial no sistema de saúde inglês, pois é o mais antigo e o maior sistema Beveridgiano a nível mundial.O National Health Service (NHS) tem uma força de trabalho de cerca de 1,2 milhões de pessoas, sendo um dos maiores empregadores mundiais e constitui um exemplo seguido por muitos países a um nível global. 

O NHS tem o apoio de um conjunto de organizações independentes e não lucrativas que promovem o debate de ideias e que produzem e divulgam informação resultante de investigação de qualidade apoiada na melhor evidência disponível. Referiria o The King’s Fund e a The Health Foundation, mas também o Institute for Government (IfG), que tem por missão trabalhar para tornar o Governo da Inglaterra mais efetivo por meio de investigação rigorosa e de qualidade, discussões abertas e produção de novas ideias. O IfG fornece análise dos principais desafios enfrentados pelo Governo e faz recomendações convincentes para a mudança. Oferece espaços de discussão e novas reflexões para ajudar políticos e servidores públicos a pensar de forma diferente sobre como o Governo pode ser melhor e promove o debate público informado sobre um governo efetivo, inclusive fornecendo plataformas para que os principais especialistas internacionais troquem ideias.  

O IFG divulgou recentemente dois importantes relatórios, um em outubro de 2023, sobre a “Retenção nos serviços públicos” procurando responder à questão “Como pode o Governo manter os trabalhadores no NHS, nas escolas e na polícia?”, e outro em setembro de 2023, um relevante trabalho sobre “Funding health care in England”. 

 RETENÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO 

Os serviços públicos dependem de mão-de-obra feliz e estável para manter a população segura, saudável e com bons níveis de educação. Mas a força de trabalho do setor público enfrenta problemas, desde a perda de pessoal experiente até à alta rotatividade e às vagas não preenchidas. Este relatório descreve as tendências recentes da força de trabalho e o impacto da fraca retenção no desempenho do serviço público. Analisam as causas das altas taxas de saída de pessoal e oferecem recomendações para as superar. 

A eficiência do serviço público depende de manter a força de trabalho existente qualificada, motivada e, crucialmente, no cargo. No entanto, relativamente pouca atenção tem sido dada à retenção. Este relatório aborda essa lacuna avaliando a escala, o impacto, as causas e as soluções para os problemas de retenção em três serviços públicos fundamentais: o NHS, as escolas e a polícia. 

As pessoas deixam os empregos e os serviços por muitos motivos, mas há fatores comuns que impulsionam as suas decisões. O relatório identifica sete fatores-chave, dos quais a remuneração e as cargas de trabalho parecem ser os mais importantes.  

  1. A remuneração nos serviços públicos tornou-se menos competitiva. Os salários de médicos e enfermeiros caíram em termos reais e não acompanharam o setor privado.  
  2. As cargas de trabalho são altas e há evidências de que a situação piorou como resultado da pandemia, e um grande número de funcionários alega esta razão como o principal motivo para querer deixar o seu emprego.  
  3. O serviço público significa horas incómodas, particularmente os turnos necessários para executar as 24 horas por dia, 365 dias por ano. Isso afeta a qualidade de vida dos funcionários. Quase metade dos profissionais diz que tem um equilíbrio difícil entre vida pessoal e profissional e que isso tem um impacto negativo na saúde mental e no bem-estar. 
  4. Liderança e gestão podem ser inadequadas. Muitos funcionários relatam que não há capacidade de gestão suficiente para apoiá-los adequadamente, com os dirigentes a nem sempre ouvirem as suas preocupações, enão querendo ou não sendo capazes de agir sobre elas.  
  5. Os funcionários podem sofrer bullying e discriminação, contribuindo para a baixa moral.  
  6. As normas sociais mudaram. Os regimes de trabalho flexíveis tornaram-se cada vez mais populares, mas tendem a ser menos difundidos nas funções de serviço público, colocando o setor numa desvantagem comparativa.  
  7. A boa vontade está a dissipar-se. O moral está baixo e muitos funcionários sentem-se desvalorizados e com a sensação de que não há ajuda no horizonte. 

 

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