LUÍS PISCO

O POTENCIAL DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS – Os Cuidados de Saúde Primários são os mais próximos e acessíveis de todos os serviços integrados no SNS: salvam vidas, poupam dinheiro e nivelam o acesso aos cuidados de saúde.

Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) constituem a porta de entrada no sistema de saúde, quando vão ao encontro das necessidades das pessoas, conhecem o seu histórico clínico e procedem à referenciação para outros níveis de cuidados, sempre que necessário. Reconfigurar os cuidados de saúde primários com equipas multiprofissionais, que dominem a tecnologia digital e perfeitamente integrados com os restantes níveis de cuidados, pode contribuir para que os profissionais de saúde prestem cuidados de excelência.
A capacitação dos cidadãos e a avaliação dos resultados obtidos ao nível das comunidades servidas também são essenciais à prestação de cuidados de elevado desempenho.

A pandemia apenas veio demonstrar o que se sabia sobre o potencial dos CSP em Portugal. As inovações induzidas pela fase mais aguda que atravessámos vieram demonstrar a capacidade dos CSP para fazer face a este e a outros eventos pandémicos e reduzir a hospitalização desnecessária de pessoas que podem ser tratadas em casa.

ATRAIR E RETER TALENTO EM TODAS AS IDADES
Um ponto de partida importante é mobilizar com sucesso uma força de trabalho que integre várias gerações, eliminando os preconceitos de idade nas práticas de recrutamento e encorajando culturas organizacionais com diversas idades, onde todos os trabalhadores se sintam confortáveis e valorizados, independentemente da idade. Reter talentos é tão importante quanto descobri-los.
Proporcionar oportunidades de carreira ao longo do ciclo de vida, a par de programas de retorno à vida ativa e de aposentações faseadas de profissionais, parece constituir políticas de retenção efetivas.

A capacidade produtiva de todas as organizações depende de uma força de trabalho envolvida, saudável e qualificada, e por isso faz sentido que os empregadores procurem aumentar a atratividade do trabalho. Há evidências robustas de que o trabalho flexível ajuda a prevenir o esgotamento, a gerir responsabilidades e o envolvimento com a formação, por isso, investir na saúde e bem-estar dos trabalhadores, em todas as idades, é igualmente importante. Iniciativas de promoção da saúde no local de trabalho são cada vez mais comuns. Aquilo que é mais inovador nesta área são os programas de bem-estar holístico: uma combinação de programas financeiros, físicos e sociais/emocionais que são combinados com outros programas de estilos de vida e atividade física.

Estes princípios são tidos em conta pela Organização Mundial de Saúde, tendo a região europeia elaborado o Programa Europeu de Trabalho 2020-2025, denominado Ação Unida para Melhor Saúde na Europa. O documento de trabalho utiliza as lições aprendidas com a pandemia e posiciona os cuidados de saúde primários no centro das três prioridades principais: Caminhar para a cobertura universal de saúde; Proteger as pessoas contra emergências de saúde; Garantir uma vida saudável e bem-estar para todos, em todas as idades.

Coloca ainda os Cuidados de Saúde Primários no centro de quatro iniciativas emblemáticos: A aliança para a Saúde Mental; Empoderamento por meio da saúde digital: Agenda Europeia da Imunização 2030; Comportamentos mais saudáveis.

ALAVANCAS DOS SISTEMAS DE SAÚDE

Para fazer mudanças estratégicas nos modelos de prestação de serviços, várias alavancas do sistema de saúde precisam de ser cuidadosamente alinhadas:

1. Investir no desenvolvimento e renovação das infraestruturas para garantir que as instalações dos CSP sejam locais dignos para prestar cuidados, atraentes para profissionais e utentes, e adequados para o trabalho baseado em equipas multidisciplinares, não apenas para atos clínicos, mas também para serviços psicossociais;

2. Atrair, proteger e reter profissionais de saúde, fortalecendo as políticas ativas de emprego, envolvendo os profissionais no planeamento, a longo prazo, da força de trabalho, e na identificação das novas competências exigidas pelas novas tecnologias, técnicas organizacionais e processos de reestruturação assistencial, repensando incentivos financeiros e não financeiros adequados às novas complexidades das organizações de saúde;

3. Acelerar a adoção de soluções digitais para consultas e comunicação entre profissionais de saúde e com os utentes, criando estruturas regulatórias claras, garantia de suporte adequado à decisão clínica (por exemplo, orientações, recursos de apoio à decisão e formação), ponderando estratégias para evitar a exclusão digital;

4. Garantir a cobertura de serviços gratuitos de CSP, incluindo medicamentos de ambulatório para condições de saúde sensíveis aos CSP, que são a maior causa de pagamentos catastróficos e empobrecedores para as famílias na Região;

5. Fornecer incentivos mais fortes para os cuidados de saúde prestados em ambiente de CSP, recompensando financeiramente a promoção da saúde, a prevenção da doença, a deteção precoce, a gestão da doença e o trabalho em equipa, os serviços de reabilitação para condições favoráveis aos CSP, ao mesmo tempo a que se reduzem os incentivos ao acesso a cuidados hospitalares;

6. Alavancar o desenvolvimento organizacional e gerir o desempenho dos CSP em alinhamento com as políticas e estratégias regionais e nacionais, fortalecendo os mecanismos de recolha de dados, garantindo a análise do desempenho e os seus referenciais, criando ciclos de informação de retorno sobre a prestação de cuidados;

7. Rever os arranjos de governação para garantir que estejam claramente alinhados, para facilitar a implementação de mudanças e sustentar as inovações que comprovadamente funcionam.

É um excelente programa de trabalho que espero que possa ser seguido em Portugal e na generalidade dos países europeus.

 

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