LUÍS PISCO

LONGEVIDADE NO SÉCULO XXI

A longevidade dos portugueses tem aumentado nas últimas décadas, acompanhando a tendência dos países desenvolvidos.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a esperança média de vida à nascença em Portugal tem evoluído de cerca de 59 anos, em 1950, para aproximadamente 72 anos, em 1980, cerca de 77 anos em 2000 e cerca de 81 anos em 2023 (em termos de género, 78 anos para os homens e 84 anos para as mulheres).

De uma forma geral, a esperança de vida à nascença na Europa, neste século XXI, continuou a aumentar, apesar de algumas oscilações. No entanto, houve períodos em que a longevidade estagnou ou até diminuiu temporariamente, especialmente devido a eventos como a crise financeira de 2008-2013 e, mais recentemente, uma ligeira diminuição entre 2019 e 2021, atribuída ao aumento de mortes no contexto da pandemia de Covid-19.

Em relação à esperança de vida aos 65 anos, no período de 2020-2022, foi estimada em 19,6 anos para o total da população. Especificamente, os homens aos 65 anos podiam esperar viver mais 18 anos e as mulheres mais 21 anos.

Abrandamentos

Um estudo conduzido por uma equipa de investigadores da Universidade de East Anglia (UEA) e publicado na revista The Lancet Public Health concluiu que o aumento da esperança de vida na Europa abrandou desde 2011. A má alimentação, a obesidade e a inatividade física, juntamente com a Covid-19, seriam os fatores-chave que teriam contribuído para o abrandamento da esperança de vida. Entre os países analisados no decorrer do estudo, a Inglaterra foi o país que registou o declínio mais significativo nos ganhos de esperança de vida.

Este abrandamento da esperança de vida à nascença provocou alguma preocupação e sugeriu a ideia de que já não estaríamos a viver mais tempo como anteriormente.

Recentemente, um estudo conduzido por investigadores da Universidade de Illinois (EUA) e publicado na revista Nature Aging concluiu que a esperança de vida humana está a aumentar a um ritmo mais lento do que no século XX sugerindo que pode haver um limite biológico para a longevidade humana – e que podemos estar a atingi-lo.

A esperança média de vida nos países desenvolvidos cresceu consideravelmente no século XX, com aumentos médios de aproximadamente 30 anos, cerca de três anos por década, em grande parte impulsionada pelos avanços na saúde pública e na medicina. A redução da mortalidade foi observada inicialmente em idades mais precoces e continuou em idades médias e mais avançadas. No entanto, não era claro se este fenómeno e o consequente aumento acelerado da esperança de vida continuaria no século XXI. Constatou-se que, desde 1990, as melhorias globais na esperança de vida desaceleraram. Os autores sugerem que é improvável que a sobrevida até os 100 anos exceda 15% para as mulheres e 5% para os homens, sugerindo que, a menos que os processos de envelhecimento biológico possam ser marcadamente retardados, a extensão radical da vida humana é implausível neste século.

Aumento da longevidade

São conhecidos os fatores que influenciam de forma positiva o aumento da longevidade, nomeadamente:

Melhorias na Saúde – O acesso a cuidados médicos, vacinação e tratamentos para doenças crónicas aumentou significativamente.

Alimentação Mediterrânea – A dieta portuguesa, rica em azeite, peixe e vegetais, contribui para a saúde cardiovascular.

Redução da Mortalidade Infantil – A taxa de mortalidade infantil caiu drasticamente, impactando a esperança de vida média.

Melhores Condições de Vida – Acesso a saneamento, água potável e educação influenciam positivamente a longevidade.

Por outro lado, desafios como o envelhecimento populacional e as doenças crónicas (sobretudo a diabetes, a obesidade e os problemas cardiovasculares) tornam-se preocupações importantes para o futuro. Para contrariar esta situação, os investigadores sublinham a importância de se adotar estilos de vida mais saudáveis desde tenra idade. Apelam também aos governos para que invistam em iniciativas sólidas de saúde pública para promover o bem-estar a longo prazo. Acentuam ainda que a esperança de vida das pessoas idosas em muitos países continua a melhorar, o que demonstra que ainda não atingimos um teto natural de longevidade.

A esperança de vida reflete principalmente a mortalidade nos mais jovens, em que temos muita margem para reduzir os riscos nocivos e prevenir as mortes prematuras.

Evolução n século XXI

Os progressos da saúde pública e da medicina no século XX permitiram que a esperança de vida na Europa melhorasse ano após ano. Mas já não parece ser esse o caso. Entre 1990 e 2011, as reduções nas mortes por doenças cardiovasculares e cancros continuaram a conduzir a melhorias substanciais na esperança de vida. Mas décadas de melhorias constantes acabaram por abrandar por volta de 2011, com diferenças internacionais acentuadas. As mortes por doenças cardiovasculares foram o principal motor da redução das melhorias na esperança de vida entre 2011 e 2019. Sem surpresa, a pandemia de Covid foi responsável por reduções na expetativa de vida observadas entre 2019 e 2021. Depois de 2011, os principais riscos, como a obesidade, a hipertensão e a hipercolesterolemia, aumentaram ou pararam de melhorar em quase todos os países. Melhores tratamentos para o colesterol e para a pressão arterial não foram suficientes para compensar os danos da obesidade e das dietas pobres.

Embora a expectativa de vida tenha crescido muito no último século, esses fatores podem fazer com que esse crescimento desacelere ou até mesmo se reverta em alguns locais. Mas os avanços na medicina, políticas públicas e literacia em saúde poderão ajudar a reverter esta tendência.

 

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