A INOVAÇÃO É PARA TODOS!
É este o tema central da Conferência da BMJ Future Health que decorre em Londres a 19 e 20 de novembro. Perspetivam-se uma série de interessantes debates sobre se as tecnologias da saúde evoluem no sentido da equidade para todos ou para o aprofundamento das divisões e das desigualdades existentes.
Painéis de discussão irão aprofundar as complexas implicações dos aplicativos de saúde na medicina personalizada, na equidade social e nos serviços de saúde. Os peritos debaterão se estas inovações são uma força positiva ou se pelo contrário contribuirão inadvertidamente para acentuar desigualdades sistémicas e trazer uma maior pressão financeira sobre os sistemas de saúde.
Um dos objetivos da conferência é compartilhar com os participantes como se poderá trabalhar em conjunto com os utilizadores dos serviços para criar soluções inovadoras, eficientes e que economizem tempo e possam ter impacto real para os profissionais e para os pacientes. Um exemplo interessante é a discussão de como podemos melhorar a tomada de decisão partilhada com os doentes de saúde mental.
Outra questão em debate é se o crescente aumento do rastreio de dados de saúde é uma sobrecarga ou um benefício para os serviços. O uso generalizado do rastreio de dados de saúde aumenta a pressão sobre os serviços de saúde já sobrecarregados à medida que mais pessoas procuram tratamento para problemas autodiagnosticados ou ajuda a descobrir condições que, de outra forma, poderiam passar despercebidas e alivia a carga sobre os profissionais de saúde, permitindo que os doentes façam medições básicas em casa.
Inovação em saúde
Caminhamos no sentido de promover a Medicina Personalizada ou no sentido de criar uma Sociedade a Dois Níveis: as novas aplicações de cuidados de saúde estão a promover estilos de vida mais saudáveis e melhores resultados para a população em geral, dando aos indivíduos mais controlo sobre a sua saúde ou beneficiam principalmente uma minoria privilegiada, negligenciando aqueles que mais necessitam de melhores intervenções de saúde, mas não podem aceder a esses serviços devido a barreiras tecnológicas e financeiras?
A Lei dos Cuidados Inversos do médico de Família inglês Julian Tudor Hart, publicada no Lancet em 27 de fevereiro de 1971, continuaria válida: os que mais necessitam de cuidados de saúde efetivos são os que menos deles beneficiam. Que o mesmo é dizer que a despesa pública em serviços de saúde beneficia frequentemente os mais ricos em detrimento dos mais pobres.
A equidade na inovação em saúde é um desafio central, especialmente num contexto onde o acesso a tecnologias avançadas ainda é muito desigual. Para garantir que as inovações realmente beneficiem toda a população, independentemente do seu estatuto socioeconómico, localização geográfica ou outras características, é fundamental que se adotem as estratégias mais efetivas. Essas estratégias, quando combinadas, ajudam a criar um ambiente mais igualitário e sustentável para a inovação em saúde, onde os benefícios são distribuídos de forma mais equitativa.
Cuidados de saúde sustentáveis
Outro tema a chamar a atenção dos participantes na conferência tem a ver com a prestação de cuidados de saúde sustentáveis questionando como escalar comunidades colaborativas e capacitar os funcionários para liderar projetos verdes. No Reino Unido, o serviço de saúde contribui com cerca de 4-5% do total de emissões de carbono do Reino Unido e o NHS na Inglaterra, sozinho, é responsável por 40% das emissões do setor público. As inovações que abordam esta questão central são fundamentais para o futuro do nosso planeta, mas exigem que as pessoas individualmente e toda a organização trabalhem em conjunto para uma mudança significativa. Há um convite muito claro para que todos colaborem transformando os seus objetivos de sustentabilidade em realidade e contribuindo para reduzir a pegada de carbono do NHS.
A inovação em saúde poderá de facto ser para todos, mas para que isso aconteça, é necessário superar desafios estruturais, sociais e económicos que limitam o acesso universal. Embora muitos avanços em saúde tendam a beneficiar primeiro populações em áreas mais desenvolvidas ou com maior poder aquisitivo, existem várias abordagens que podem democratizar o acesso à inovação e garantir que ela beneficie o maior número de pessoas possível.
Apesar dos avanços, existem desafios que é necessário superar para alcançar uma inovação em saúde verdadeiramente inclusiva. De entre eles salientaria:
- Desigualdade no financiamento da saúde: muitos recursos são concentrados em mercados desenvolvidos, o que limita a alocação de investimentos em inovações para populações mais desfavorecidas.
- Infraestruturas inadequadas: em muitos países, a infraestrutura de saúde é insuficiente, dificultando a implementação de tecnologias mais avançadas.
- Barreiras culturais e de acesso digital: nem todas as comunidades têm familiaridade com ferramentas tecnológicas, e a conectividade digital ainda é um desafio em algumas regiões.
Estamos certos que os melhores avanços na saúde vêm de uma verdadeira compreensão dos desafios enfrentados pelos pacientes, pelos profissionais de saúde e pelo sistema em geral no dia a dia e no ponto de necessidade ou, de preferência, antes disso.
Com uma abordagem estratégica correta e o apoio de políticas públicas, é possível que a inovação em saúde seja mais inclusiva e beneficie a todos, promovendo uma sociedade mais saudável e justa.