LUÍS PISCO

EFEITOS DO CALOR SOBRE A SAÚDE

Apenas em meados dos anos 70 do século passado, a comunidade científica internacional começou a colocar maior ênfase na compreensão da influência do ambiente (fenómenos de calor e de frio extremos) sobre a saúde e a doença.

As ondas de calor ocorrem frequentemente na Europa e, de alguma forma, são fenómenos que fazem parte do perfil climático da região sul da Europa. No entanto as ondas de calor que têm sido registadas nas últimas décadas têm características diferentes das registadas no século passado, sendo cada vez mais frequentes, mais prolongadas e mais intensas. Atingem, inclusive, regiões do território europeu que não era hábito.

Muitos se lembrarão ainda de uma das ondas de calor mais intensas que ocorreu na Europa e que se verificou na primeira quinzena de agosto de 2003 e que afetou fortemente Portugal, com impacto relevante na mortalidade da população. Foi, sem dúvida, um período excecionalmente quente e muito prolongado, no qual se registaram vários novos extremos de temperatura do ar e que ainda hoje se mantêm.

Esta onda de calor, em 2003, foi uma das mais fortes e que mais consequências trouxe ao Hemisfério Norte. Ocorreu num dos mais quentes verões europeus, causou crises na saúde em vários países e consideráveis impactos na agricultura e o desencadear de enormes incêndios florestais. Várias pessoas morreram por causa das altas temperaturas, que chegaram perto dos 50º Celsius em algumas regiões da Europa. O país mais atingido foi a França, mas também Itália, Grécia e Portugal, tiveram graves prejuízos devido ao calor extremo.

Lições a aprender

Que lições se puderam aprender dessa onda de calor, excecionalmente longa e severa, que ocorreu na Europa em 2003?

Primeiro, que estas ondas de calor podem provocar um excesso de mortalidade considerável: mais de 50 mil óbitos na Europa em agosto de 2003. Provavelmente as consequências foram subestimadas em muitos países, pelo menos nas primeiras avaliações. Este excesso de mortalidade afetou grupos vulneráveis, sobretudo crianças, pessoas idosas, doentes e os mais pobres. A identificação dos fatores de risco é prioritária principalmente se se quiser que as indispensáveis ações de prevenção sejam implementadas em tempo oportuno.

A falta de preparação para enfrentar um calor extraordinário como esse, com uma mortalidade excessiva de mais de 35 mil pessoas em França, foi chocante, mas em Paris de uma forma dramática e inédita verificou-se a existência de mais de um milhar de idosos mortos, nesse agosto de 2003, a maioria isolados nos seus domicílios e onde se destacava a precariedade social e económica de parte da população idosa da capital. As avaliações realizadas, sublinharam fortemente a importância de vínculos recíprocos entre as diferentes dimensões (saúde, social e contextual) para enfrentar este novo fenómeno de saúde. A consequência política foi a saída do ministro da Saúde, Jean-François Mattei, que perderia o cargo em  março de 2004.

Fenómeno recorrente

Os fenómenos de calor extremo têm-se tornado, nos últimos anos, um fenómeno cada vez mais recorrente, a nível global, seja na Índia, no Brasil, nos Estados Unidos ou em África, mas olhamos especialmente para os países do sul da Europa. As temperaturas elevadas que têm vindo a ser registadas em Itália, Espanha, Grécia e em Portugal têm resultado num aumento das taxas de mortalidade, especialmente entre as populações mais idosas e vulneráveis.

Um estudo recente, coordenado por David García-León, do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, publicado pela revista Lancet Public Health, sugere que as mortes provocadas pelos fenómenos de calor extremo possam vir a triplicar um pouco por toda a Europa até ao final do século, caso as políticas climáticas estabelecidas atualmente se mantenham. Segundo a investigação, o número de óbitos associados ao calor – que atualmente se situa nos 43 mil – pode subir para os 128 mil até 2100, tornando-se premente reforçar as políticas para limitar o aquecimento global e proteger as regiões e os membros das sociedades mais vulneráveis dos efeitos do aquecimento global.

 Como as altas temperaturas afetam a saúde

As evidências da última década mostram uma boa consciência geral do problema, mas associada a uma perceção de baixo risco do calor pelo público, grupos vulneráveis e mesmo de alguns profissionais de saúde.

A Organização Meteorológica Mundial emitiu um alerta de que as temperaturas devem continuar altas; a previsão é que o próximo ano será ainda mais quente.

Enfrentar calor sufocante tem-se tornado uma realidade, com as constantes ondas de calor um pouco por todo o mundo, e a tendência é piorar ainda mais, já que o aumento da temperatura ocorre em decorrência das mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global. Esta situação acaba por se tornar prejudicial não apenas ao meio ambiente, mas também aos seres humanos e até aos animais.

Estar exposto ao calor extremo associado ao tempo seco sem cuidados básicos pode causar alterações no organismo que trazem riscos à saúde, especialmente para crianças, idosos e pessoas com a saúde mais fragilizada.

Como proteger-se do calor?

É fundamental as pessoas protegerem-se do calor e manterem-se hidratadas em dias de temperaturas muito altas. Entre algumas das principais recomendações estão:

  • Beber bastante água e não a substituir por bebidas alcoólicas;
  • Fazer refeições leves e frias mais vezes ao dia;
  • Manter a casa fresca, com janelas abertas;
  • Tomar banhos mais frios;
  • Preferir ambientes arejados e evitar aglomerações;
  • Proteger-se do sol com chapéu, óculos escuros, roupas leves e protetor solar;
  • Usar soro fisiológico nos olhos e narinas;
  • Não fazer exercícios físicos em horários com maior incidência de raios UV, entre as 11h e as 17h.

São recomendações muito simples, mas que podem fazer a diferença.

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