A CIÊNCIA PÚBLICA E AS EMPRESAS
Investigar significa gastar dinheiro (investir) para criar conhecimento. A Inovação Empresarial utiliza o conhecimento entretanto adquirido para criar valor (ganhar dinheiro) num contexto de mudança económica e social, avançando para novos produtos e processos, o que permitirá a diferenciação competitiva em relação aos concorrentes. Mas a investigação não é só a investigação científica e tecnológica. Por exemplo, quando uma empresa encomenda um estudo de mercado para melhor conhecer o mercado que quer servir, está a gastar dinheiro (investir) para criar conhecimento sobre esse mercado. Também a inovação não é apenas a inovação de base tecnológica. Há também inovação nas novas formas de organização, nos novos modelos de negócio e nas novas formas de relacionamento com o cliente. Assim sendo, há inovações ao nível dos produtos, dos processos e do posicionamento estratégico das empresas no mercado. É então fácil de perceber que se um país apenas investiga e esse conhecimento não é injetado nas empresas, a economia não inova nem se desenvolve. No meu tempo de Governo, Valente de Oliveira, através do Programa Ciência, impulsionou a Investigação Cientifica, e eu, pelo Programa PEDIP, apoiei a Investigação Industrialmente Orientada, a Inovação Empresarial e as Infraestruturas Tecnológicas. Juntos criámos a Agência de Inovação que veio a apoiar a criação de Núcleos de Inovação nas PME e de Centros de I&DT nas grandes empresas, promovendo a articulação entre os Centros de Investigação e as empresas. Depois, o malogrado, e meu amigo, Mariano Gago, nos seus longos consulados nos governos de Guterres e de Sócrates, veio dar um novo impulso à Investigação Cientifica, mas esqueceu a sua ligação às empresas, com culpas, aliás, dos seus colegas ministros da Economia. Por isso, o país já está, felizmente, a nível europeu na área da Investigação Científica, mas ainda é infra-europeu a nível da Inovação Empresarial. Um dos resultados mais visíveis dessa política é o facto de, em 2011, apenas 2% dos doutorados estarem nas empresas e o número de doutorados nas áreas de engenharia e tecnologia ter decrescido 11% entre 1999 e 2011! Então, para mascarar o desemprego doutoral criaram-se as bolsas de pós-doutoramento! Mas o problema não se resolve, como quer o primeiro-ministro, transformando esses bolseiros em funcionários públicos. Mais vale gastar dinheiro público financiando a inserção de doutorados nas empresas do que transformá-los em funcionários públicos, tornando a Ciência apenas pública! Não podemos ter uma agenda ideológica nesta matéria, mas uma agenda económico-empresarial, pondo o conhecimento como fator de competitividade da economia e das empresas!