ELEIÇÕES E ALTERNÂNCIA DEMOCRÁTICA – Somos um país fortemente endividado, muito envelhecido, com uma economia anémica, e que se tem transformado num país de pobres e dependentes do Estado, com a classe média sujeita à asfixia fiscal. Segundo a PRODATA, 56,3% do eleitorado é composto por pensionistas, funcionários públicos e trabalhadores de empresas públicas, beneficiários do rendimento social de inserção e trabalhadores com o salário mínimo nacional. E a emigração maciça dos nossos jovens mais qualificados vai dificultar a reversão desta estrutura. Em complemento, 50% dos portugueses não paga IRS e, segundo o BCE, somos o país da zona euro com maior iliteracia financeira.
É então fácil de perceber quão difícil é o centro-direita ter propostas ganhadoras em eleições legislativas, acontecendo até que os mais elementares princípios duma economia social de mercado são logo trucidados no debate público, como se viu aliás na última campanha eleitoral. Rui Rio até fez uma boa campanha, mas sendo um homem sério e transparentemente um social-democrata, que na Alemanha estaria no SPD, teve óbvias dificuldades em mobilizar todo um eleitorado de centro-direita. Como alguém disse, o centro é apenas um lugar geométrico, não sendo a plataforma política que nos bons tempos mobilizava para o PSD eleitores do centro-direita ao centro-esquerda. Por outro lado, o PSD em coligação com o CDS, teria tido mais cinco ou seis deputados que teriam impedido a maioria absoluta, não tendo infelizmente conseguido o CDS, sozinho, eleger deputados. O PS, com esse corpo de elite que é a sua brigada de minas e armadilhas para a comunicação social, soube aproveitar a surpreendente sondagem que dava empate técnico, levando a esquerda assustada a votar útil no PS. Assim, a fragmentação à direita e o voto útil no PS aumentaram a diferença entre o PS e o PSD, facilitando uma inesperada maioria absoluta só com 41% dos votos, enquanto que nas suas maiorias José Sócrates teve 44% e Cavaco Silva, 50% e 51% dos votos. Desde Guterres, com mais estes quatro anos, o PS governará 22 anos, enquanto o PSD com o CDS só governou sete anos, sempre a resolver os défices excessivos e a bancarrota criados pelo PS! O regime começa a confundir-se com o PS, levantando um sério problema estratégico a um partido de poder como o PSD. Mas o novo governo PS maioritário vai ter um período muito difícil. Dificuldades a nível mundial nas cadeias de abastecimento e genericamente do lado da oferta para satisfazer uma forte procura de bens na sequência da retoma das economias e das poupanças acumuladas transformadas em consumo, com a subida dos preços das matérias-primas e dos salários já tinham gerado um forte surto inflacionista, com impacto a prazo nas taxas de juro.
A guerra Rússia-Ucrânia vem, pelo impacto nos preços da energia e dos alimentos, reforçar essas tendências e afetar o crescimento económico, podendo levar à chamada estagflação – inflação mais estagnação económica. Portugal, país altamente endividado e com a segunda economia mais lenta da OCDE a recuperar da pandemia, vai obviamente ser afetado.