LUÍS MIRA AMARAL

JOÃO CRAVINHO E A POLÍTICA INDUSTRIAL 

Morreu recentemente João Cravinho, que foi um grande senador da política portuguesa e se preocupou com a luta contra a corrupção, no que não foi apoiado pelo seu partido, o PS. 

Conheci-o quando o Banco de Fomento Nacional (BFN) nos anos 80 do século passado encomendou ao Gabinete de Estudos Básicos de Economia Industrial (GEBEI), que ele dirigia, um estudo sobre “A Especialização da Indústria Portuguesa”. Eu e o Prof. Manuel Sebastião fomos, pelo BFN, os interlocutores com a equipa dirigida por ele e que integrava Ferro Rodrigues, Félix Ribeiro e Lino Fernandes. Fiquei amigo dos quatro e, apesar das naturais divergências políticas, estabeleci laços de muita amizade, respeito e consideração mútuos com João Cravinho, com quem almoçava regularmente na Ordem dos Engenheiros numa tertúlia de engenheiros que tinham trabalhado na banca. 

Esse excelente estudo foi uma grande referência para a minha política industrial no sentido em que mostrava quetínhamos, com raras excepções, uma indústria com bens de consumo corrente de baixa qualidade e baixo preço e com poucos bens de equipamento. Por isso, além da recuperação e modernização dos setores industriais tradicionais, onde o Relatório Porter viria posteriormente a dar-me razão contra os que queriam acabar com eles dizendo que estavam obsoletos, lancei o PRODIBE – Programa de Desenvolvimento da Indústria de Bens de Equipamento, que passou depois a PRODIBETA com a inclusão das Tecnologias Ambientais quando, em exemplar cooperação com os ministros do Ambiente Carlos Borrego e Teresa Gouveia, introduzi o ambiente na política industrial. Em 1995, quando saí do Governo, o Banco de Portugal dizia que pela primeira vez as exportações de máquinas elétricas e não elétricas e de material de transporte ultrapassavam as dos setores tradicionais. Graças à política industrial com os seus apoios e ao investimento empresarial, para o qual o investimento direto estrangeiro foi relevante, a aposta de mudar a estrutura industrial portuguesa estava em curso. 

Recordo o meu debate como ministro da Indústria com o então eurodeputado João Cravinho na RTP, moderado pelo José Eduardo Moniz, no dia 17 de março de 1990, sobre o setor têxtil. O Governo, de que fazia parte, tinha-o atacado,mas conseguimos esgrimir os nossos argumentos com grande elegância e civismo de parte a parte. Concordámos que tínhamos três vertentes: a industrial, de modernização do setor; a comercial, em que era preciso, no quadro do Uruguay Round, impedir a entrada selvagem da produção asiática nos mercados europeus; e a regional, atendendo ao peso do setor nalgumas regiões como o Vale do Ave. 

João Cravinho, engenheiro civil que estudou Economia em Yale e que se tornou também economista, formou no GEBEI distintos engenheiros e economistas como os meus amigos Prof. Aníbal Santos e Amado da Silva, as minhas  grandesreferências na Economia Industrial, e o Eng. Alberto Moreno, meu diretor-geral do Gabinete de Estudos e Planeamento no Ministério da Indústria. 

 

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