A EÓLICA OFFSHORE
A Associação Portuguesa para as Energias Renováveis (APREN) tem feito os seus melhores esforços para que tenhamos em Portugal 2000 MW de eólica offshore. O declive da nossa costa não permite ter as plataformas marítimas amarradas ao fundo do mar, tendo que se avançar, como em Viana do Castelo, para plataformas flutuantes ainda em fase embrionária de experimentação e bem mais caras. O custo desta tecnologia também disparou por aumento do preço dos materiais e das taxas de juro. Por isso, tem-se assistido ao protelamento destes projetos: a Itália e a Noruega adiaram-nos por uma década, esperando que a tecnologia amadureça e os preços caiam; a Irlanda decidiu continuar com plataformas amarradas ao fundo do mar e não avançar para plataformas flutuantes; e a dinamarquesa Orsted, líder nestas tecnologias,está em grandes dificuldades. Se a eletricidade de Viana do Castelo nos custa €159,9/MWh, nesses novos projetos o preço deverá aproximar-se dos €200/MWh.
Para 25 MW instalados em Viana do Castelo, o cabo de ligação à terra custou €50 milhões, que pagamos nas tarifas de acesso à rede, agora imaginem os custos dos cabos para 2000 MW! A APREN quer agora convencer-nos que tais projetos dinamizarão a fileira metalomecânica, ou seja, depois de mandar na política energética, quer agora fazer política industrial da responsabilidade do Ministério da Economia! Em Viana do Castelo a terceira plataforma já foi feita em Espanha, como referência à experiência irlandesa, leva a uma incorporação nacional de apenas 21%, mas mesmo que essa fileira fosse dinamizada, o que, face ao que aconteceu em Viana do Castelo, levanta muitas dúvidas, incorria-se num erro crasso de política industrial quando, para tentar dinamizar um setor, se prejudica toda a economia que pagaria preços exorbitantes por essa eletricidade.
E nós nem precisamos dessa eletricidade, pois o tempo da integração fácil das renováveis intermitentes na rede já acabou e agora novas potências apenas aumentam o excesso de energia nalgumas horas, não resolvendo o problema da falta dela quando não há sol ou vento. Novas potências intermitentes apenas fazem com que estas renováveis se canibalizem umas às outras!
A ministra do Ambiente veio dizer que aguarda um estudo sobre estes 2000 MW marítimos. Deve estar a referir-se ao Despacho nº 11404/2022 que criou um grupo de trabalho para o planeamento de novos centros produtores marítimos. Este despacho tem duas originalidades: é feito em nome de três ministérios, mas apenas tem a assinatura de dois secretários de Estado, faltando o de um dos ministérios invocados; tem a APREN, que é parte interessada no estudo, a integrar o grupo de trabalho! Aguardo pois com muita curiosidade o resultado deste estudo…
Se estes 2000 MW avançarem, terei que parafrasear o presidente da SEDES quando dizia,a propósito do Plano Nacional de Energia e Clima, que somos realmente os totós da Europa!