O RELATÓRIO DRAGHI
Draghi, que já salvou o euro, quer agora salvar a União Europeia (UE) da sua crise existencial. A Agenda Verde Europeia (Green New Deal) lançada há cerca de três anos por uma patética Comissão Europeia, onde pontificava no Ambiente e Clima um tresloucado Sr. Timmermans, contribuiu também para o declínio económico e social da Europa.Pretendeu atingir objetivos de descarbonização irrealistas, sem se preocupar com as consequências económicas, financeiras e sociais, multiplicando os constrangimentos infligidos às empresas e às populações!
Estamos a assistir a um cenário terrível em que os custos de importação de combustíveis fósseis são elevados, as importações de equipamentos ligados às tecnologias de baixo consumo carbónico aumentam, as matérias-primas críticas para a transição são dominadas e militarizadas pela China e as indústrias de forte intensidade energética fecham na Europa para irem abrir noutras geografias com custos energéticos mais baixos, designadamente os EUA. Temos aquilo a que o Prof. Abel Mateus chama de paradoxo geoestratégico euro-chinês, um dos maiores erros da UE, estabelecendo estas metas ambiciosas para as renováveis e para os veículos elétricos, querendo mesmo banir a venda de veículos com motores térmicos, mas sem uma política industrial coerente para a produção na Europa destes equipamentos e tecnologias. Quem está a aproveitar é a China!
O Relatório Draghi, numa linha politicamente correta mas profundamente errada do ponto de vista económico, ignora o facto de haver conflitos inerentes aos vários objetivos propostos. Há os chamados trade-offs, não sendo possível ao mesmo tempo elevar o nível de inclusão social, atingir a neutralidade carbónica, aumentar a segurança e relevância geoestratégica e conseguir altas taxas de crescimento. Haverá custos muito elevados no curto prazo nessas transições energética e digital que porão em causa o crescimento do produto. E se bem que diagnostique bem o nosso problema energético em relação aos EUA e China, não tira depois as devidas conclusões.
É positivo no que toca ao aprofundamento do Mercado Interno Europeu, à criação de um verdadeiro Mercado de Capitais Europeu, na proposta para acabar com a fragmentação existente nas indústrias de Defesa e do Espaço e na reforma das políticas de Investigação, Desenvolvimento e Inovação na Europa.
No que toca à política industrial, Draghi defende um conceito com o qual concordo, dizendo que a política de comércio externo, a proteção das nossas empresas contra o dumping, para assegurar o level playing field, e a gestão das cadeias de valor global que fornecem bens intermédios (privilegiando os países nossos aliados) para os produtos finais devem estar alinhadas com a política industrial. Mas não sendo a UE um Estado Federal como os EUA, nem um Estado com o controlo centralizado do Partido Comunista, como a China, torna-se muito mais difícil executar na UE uma política industrial centralizada em Bruxelas, sendo necessária uma grande coordenação entre o nível comunitário e os níveis nacionais, o que não será nada fácil!