LUÍS MIRA AMARAL

O TRABALHISMO INGLÊS E O NOSSO PS

Levei para ler em férias o programa económico do novo primeiro-ministro de Sua Majestade, Sir Keir Starmer, e ainda em segunda leitura o refrescante livro do Prof. Nuno Palma, As Causas do Atraso Português, o qual suscitou obviamente a crítica da comunicação social e dos historiadores nacionais, o que até parece agradar ao autor, que vive, ensina e investiga no Reino Unido (RU),publicando os seus papers nas revistas internacionais, não precisando pois dos comentadores do nosso burgo… A obra usa o pensamento crítico e imparcial para comparar períodos históricos, recorrendo a elementos qualitativos e interessantes séries estatísticas, como por exemplo a evolução da estatura média dos portugueses, e desmontar algumas narrativas… O que se conclui da janela de observação de Nuno Palma é uma decadência já antiga e que agora é agravada pela estagnação e divergência recorrentes face à Europa. Da minha janela bastaria comparar Portugal com a Irlanda desde a entrada na então CEE para se constatar o impasse em que estamos…

No RU, o Partido Trabalhista aproveitou o completo e chocante desastre dos conservadores (Brexit, charlatão Boris e louca Liz Truss), libertou-se do radical de esquerda Jeremy Corbyn, e sob a liderança de um homem moderado ganhou  as eleições com um programa económico sensato e realista, que por cá seria certamente considerado neoliberal… Neste pobre país com uma cultura e uma comunicação social fortemente enviesada para a esquerda, as coisas mais elementares em termos de economia social de mercado têm logo esse epíteto…

Temos pois no RU uma solução política estável, ao contrário do que está a acontecer em França, que constitui um grande risco para a zona euro, e mesmo na Alemanha com um governo de três partidos muito disfuncional e onde perpassa a ameaça da extrema-direita. O novo governo do RU propõe-se trabalhar em parceria com as empresas, ao mesmo tempo que se disponibiliza para aportar capital a projetos do setor privado sem tentar substituí-lo, admite baixar o IRC para defender a competitividade fiscal das empresas no mercado global, ao contrário do nosso PS que não é sensível à competitividade fiscal das nossas empresas e por isso não quer baixar o IRC, e prevê a construção de 300 mil casas/ano pela iniciativa privada, contribuindo o Estado com a simplificação dos licenciamentos. Por cá, este programa social-democrata passou despercebido, estávamos mais encantados com a Nova Frente Popular, em França, e com o seu líder, o trotskista Melenchon… A única exceção foi a Alexandra Leitão no Expresso, que certamente consciente de que o PS está a viver o seu momento Corbyn com Pedro Nuno Santos, veio inteligentemente elogiar o exemplo de social-democracia moderna de Sir Keir!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *