LUÍS MIRA AMARAL

AS IMPORTAÇÕES DE ELETRICIDADE 

Estamos muito dependentes das energias eólica e hidroelétrica. Há um excesso de eólica e ainda baixa contribuição da solar, que deveria assentar muito na solar distribuída, através das figuras das Unidades de Produção para o Autoconsumo (UPAC) e Comunidades de Energia Renovável (CER) e não na loucura em curso das mega centrais. Osistema repousa nas centrais a gás natural e nas importações para fazer face à intermitência das eólicas e a situações de seca em que o contributo das hidroelétricas a fio de água é reduzido. Havendo correlação entre chuva e vento, em situações de seca também há falta de vento, ou seja também fraca produção eólica. 

Como em Espanha os regimes de vento e de pluviosidade são semelhantes aos nossos, quando importamos de Espanha, fazemo-lo numa situação de maior dificuldade do sistema do que quando exportamos, em que estamos a vender para Espanha excedentes de uma mercadoria de que eles também não necessitarão, e por isso os preços das importações de eletricidade serão naturalmente bem maiores do que os preços das exportações. 

A crise energética com preços de gás e eletricidade muito elevados, o diferencial de preços entre importação e exportação, conjugado com os elevados valores de importação de eletricidade em situações de seca, comoaconteceu em 2022, explicam o valor recorde das importações líquidas (importações menos exportações) o ano passado, €1659 milhões! Tal criou grande nervosismo (compreensível…) nos defensores das renováveis intermitentes, levando-os a escrever artigos a tentar desdramatizar a situação… 

Os algoritmos para a alocação da geração no mercado spot do MIBEL levam a otimizar em cada instante o mix mais económico de produção, mas esses algoritmos trabalham com os sistemas existentes e, como vimos, o sistema português está desequilibrado, muito vulnerável à intermitência das eólicas e a regimes de seca. A entrada de mais potência solar na nossa rede permitirá atenuar as dificuldades nesses períodos de seca. No fundo, esse mercado spot reflete para a eletricidade, como para qualquer mercadoria, o facto de termos de importar, ou porque não temos produção, ou porque é mais barato, em termos de preço, importar do que produzir internamente. Em 2022 até fizemos importações de socorro, sem ter as nossas centrais a gás no máximo, porque não se quis comprar no mercado spot gás adicional em relação aos contratos de longo prazo take or pay, o que levou a esvaziamentos dealgumas albufeiras para se produzir eletricidade, e a importações de Espanha de cerca de 30% do nosso consumo! 

 

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