LUÍS MIRA AMARAL

A CORRIDA AO SOL NA FOTOVOLTAICA

As energias eólica e solar são intermitentes e também têm uma baixa densidade energética (energia produzida por unidade de superfície utilizada). A nuclear tem 5,2 TWh/km2, uma central a gás 3 TWh/km2, a solar fotovoltaica apenas 0,08 TWh/km2 e a eólica em terra só 0,013 TWh/km2. Isso obriga a grandes ocupações do espaço se se instalarem megacentrais renováveis para produção centralizada. Fará mais sentido utilizar a fotovoltaica para produções descentralizadas junto do consumidor, tornando-o produtor e consumidor (prosumer), evitando o transporte de energia na rede, e as consequentes perdas nesse transporte, e minimizando a utilização do espaço, pois os painéis fotovoltaicos serão instalados nos telhados e terraços dos consumidores. Para a produção descentralizada em Portugal, já temos as Unidades de Produção para o Autoconsumo (UPAC) e as Comunidades de Energia Renovável, mas nestas, de 150 projetos submetidos, ape-nas meia dúzia terá tido aprovação!

O Programa Nacional de Energia e Clima (PNEC) previa 9 GW de fotovoltaica para 2030 com apenas 2 GW de geração distribuída. E desencadeou-se uma frenética corrida ao sol, uma grande bolha solar, com atribuição de novas licenças para megacentrais fotovoltaicas a atingirem cerca de 20 GW! Já se derrubaram árvores e mataram-se animais para a instalação dos painéis. Põe-se em causa a biodiversidade, havendo também alertas sobre o risco de termos áreas completamente artificializadas pela remoção do coberto vegetal. O território será ainda coberto por um emaranhado de linhas para o transporte dessa energia. As populações começarão a fartar-se de tanto impacto paisagístico e de tanta ocupação do território! No meio disto, dos leilões solares de 2019/2020, aqueles em que a dupla Matos Fernandes/Galamba se gabava de ter obtido os preços mais baixos do mundo, o Governo viu-se pressionado pelos promotores vencedores a rever e a aumentar os preços de venda, justamente por serem tão baixos que os vencedores não queriam depois implementar os projetos, melhorando assim as condições destes, coisa chocantemente injusta para quem perdeu o leilão. Devia ter sido anulado e feito outro! Não basta dizer com ligeireza que as renováveis são uma aposta vencedora. Importa retomar o planeamento da geração de eletricidade face aos consumos projetados e articular o planeamento da rede de transporte feito pela REN com o PNEC. Temos um consumo de ponta máximo de 10 GW para uma capacidade instalada de geração de 20 GW, e depois desta tremenda injeção solar, ainda querem mais 10 GW de eólica marítima! Em dias com sol, vento e água e fraco consumo, como nos fins de semana, o que se fará à enorme energia sobrante gerada? Exporta-se, armazena-se, corta-se a produção ou canibaliza-se a renovável instalada pela nova a instalar? E tanta renovável não reduz a necessidade de potência firme de back-up quando não há vento nem sol. Impõe-se uma avaliação económica disto tudo e convinha ver os limites de ocupação do território.

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