LUÍS MIRA AMARAL

A FALÊNCIA DO SILICON VALLEY BANK

Quando a FED (Banco Central dos EUA) sobe rapidamente as taxas de juro em 400 pontos base, isso pode afetar a estabilidade financeira, como se viu agora com as falências de três bancos regionais americanos, o Silicon Valley Bank (SVB), o Signature Bank e o First Republic Bank. O SVB tinha ativos e depósitos, respetivamente, de 209 e 175 mil milhões de dólares. Esses ativos eram títulos do tesouro americano (treasury bonds – TB) e obrigações hipotecárias compradas com o dinheiro dos depósitos. O SVB não se tinha protegido contra o risco de subida das taxas de juro, tendo uma gestão de ativos e passivos muito deficiente.

As TB são seguríssimas se conservadas em carteira até à maturidade, pois o Tesouro americano pagará, mas com a subida das taxas de juro desvalorizam-se em mercado secundário pois novas TB emitidas já com taxas mais altas levam as antigas TB a terem de ser transacionadas a preços abaixo do valor nominal, por forma a que a yield(juro/valor da transação) se possa comparar com o rendimento das novas TB.

O SVB era o preferido das startups e das tecnológicas mas, acabada a época do dinheiro fácil com financiamento através do capital de risco e do Private Equity, estas precisaram de fundos e começaram a levantar os depósitos no SVB através de ordens digitais, antecipando o que será uma corrida aos depósitos (bank run) na era digital. O SVB começou então a vender TB para resgatar depósitos, incorrendo em perdas significativas de capital ao vender esses títulos, como explicado, abaixo do valor de compra. Tentou um aumento de capital, que falhou, o que agravou a perda de confiança e a corrida aos depósitos. Acabou sem liquidez e sem capital, tendo levado à falência dos outros dois bancos regionais e a uma crise de confiança nos bancos regionais americanos, insuficientemente regulados. A regulação federal só abrangia bancos com ativos superiores a 250 mil milhões de dólares. Estes bancos regionais têm entre 45% e 80% do mercado nos vários segmentos, o que poderá levar a dificuldades no financiamento às empresas (credit crunch) com o consequente risco de recessão na economia americana.

A onda de choque chegou à Europa, onde temos um sistema bancário mais capitalizado do que o americano e com uma forte regulação bancária, apanhando o Credit Suisse (CS) que era há muito um acidente à espera desta oportunidade! Acabou comprado pela UBS com intervenção do Banco Central suíço. Lembrei-me de uma aula no INSEAD em 2001, no Strategic Management in Banking Program, quando o professor nos explicou as vulnerabilidades suíças. O resgate do CS desvalorizou o mercado europeu dos contingent convertible bonds(CoCos), excelente instrumento financeiro utilizado na época da troika pelo Estado português para apoiar o BCP e o BPI, quando, ao arrepio de toda a prática, os obrigacionistas do Additional Tier 1 (equivalente a CoCos) tiveram perda total do seu investimento, o que não aconteceu com os acionistas do CS! O nosso professor do INSEAD tinha razão!

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