LUÍS MIRA AMARAL

A DESCARBONIZAÇÃO NOS VEÍCULOS AUTOMÓVEIS

Nos veículos automóveis há quatro soluções para substituir os derivados do petróleo: (1) veículo com motor elétrico e bateria (BEV – Battery Electric Vehicle), vulgo veículo elétrico; (2) veículo com o mesmo motor elétrico mas com pilhas de combustível alimentadas a hidrogénio (FCEV – Fuel Cell Electric Vehicle), vulgo veículo a hidrogénio; (3) veículo com motor de combustão inter- na (VCI) alimentado a hidrogénio (H2 ICE – H2 Internal Combustion Engine), solução pensada pela Porsche, BMW e Toyota para manter estes motores através do hidrogénio, o gás da moda para os decisores políticos; (4) VCI alimentado por combustíveis de baixo conteúdo carbónico e combustíveis sintéticos (e-fuels), estes feitos com hidrogénio e CO2 capturado, os quais preservam as frotas existentes.

A União Europeia (UE) proibiu a venda de VCI novos a partir de 2035, apesar das soluções de descarbonização referidas! Sonha com uma rede elétrica só́ com renováveis intermitentes e um parque só com BEV e FCEV. Não tem consciência dos riscos tremendos de dependência de uma só tecnologia e do tout électrique, pois que mesmo nos FCEV, o hidrogénio será o verde produzido a partir dessas renováveis. Se a rede elétrica falhar, teremos o colapso destes transportes.

A UE incorre no erro crasso de selecionar as tecnologias, picking the winners e technology push, lógicas a evitar nas políticas industrial e tecnológica, em vez de seguir o market pull, mantendo a neutralidade tecnológica e impondo os standards climático-ambientais, mas deixando ao mercado dos produtores e utilizadores a escolha das tecnologias mais adaptadas a cada carga/uso específico, tendo em conta o total cost of ownership.

E como os veículos elétricos serão mais caros do que os VCI, as pessoas com menores rendimentos irão procurar carros velhos que irão subir de preço ao contrário do que dizia o ex-ministro Matos Fernandes! Já na pandemia essas pessoas foram comprar carros antigos que se valorizaram para fugirem aos transportes coletivos. Tal só não se concretizará se os chineses invadirem a Europa com veículos elétricos muito baratos. Mas aí a indústria automóvel europeia, condicionada pela UE a deixar de produzir veículos com motor térmico que ainda se continuarão a vender nas outras geografias, ao contrário  dos japoneses que os continuarão a produzir e a vender nessas geografias, será esmagada no seu mercado interno pelos chineses com veículos elétricos mais baratos. Por outro lado o governo americano lançou o Inflation Reduction Act (IRA), estranho nome para designar um pacote de gastos públicos destinado a apoiar financeiramente as tecnologias e equipamentos de descarbonização produzidos nos EUA. Com este pacote os veículos elétricos produzidos nos EUA serão fortemente subsidiados. Mais uma grande ameaça para a indústria automóvel europeia que ficará entalada entre chineses e americanos na produção de veículos elétricos.

Tempos muito difíceis se avizinham para um setor industrial com grande peso no PIB e no emprego em várias economias europeias.

 

 

 

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