LUÍS MIRA AMARAL

GASODUTO OU CORREDOR VERDE?

Aquando da discussão da taxonomia financeira da União Europeia, lista de projetos considerados sustentáveis e por isso suscetíveis de serem financiados e apoiados, os investimentos em infraestruturas de gás natural só foram incluídos por pressão da Alemanha, mas ficou decidido que se deviam fazer infraestruturas para transporte de gases renováveis, as quais transitoriamente poderiam ser utilizadas para o transporte de gás natural (GN). Na recente cimeira entre Macron, Costa e Sanchez, as interligações gasistas foram então embrulhadas no conceito dos corredores verdes para gases renováveis dessa taxonomia… Macron ofereceu em troca do MidCat um novo gasoduto marítimo de Barcelona a Marselha, útil para os terminais espanhóis, designadamente Barcelona. O nosso primeiro-ministro deixou então cair o gasoduto Sines-Alemanha, tendo eu (nesta coluna) e outros especialistas demonstrado que Sines não era competitivo em relação aos terminais espanhóis para fornecer GN à Alemanha, e vendeu-nos a terceira interligação gasista Portugal-Espanha, orçada em €300 milhões, para através dela exportarmos hidrogénio verde para a Europa.

A REN tinha há muito esse projeto, sendo o problema para a empresa simples: desde que o regulador aceite, as amortizações do investimento são custos elegíveis para a tarifa de transporte e os consumidores portugueses de GN irão pagar o investimento, caso a União Europeia não o financie. Ora, a exportação desse hidrogénio de Portugal para a Europa é prematura porque: esse hidrogénio está numa fase de projeto-piloto e não numa fase madura que justifique investimentos significativos em infraestruturas de transporte; no estado atual da tecnologia, mais vale transportar a energia sob a forma de eletricidade e produzir o hidrogénio localmente com essa eletricidade; não vale a pena pagar o sobrecusto de construir os tubos nessa nova ligação, preparados para o hidrogénio, pois que a restante tubagem dos gasodutos em Portugal e Espanha não está preparada para tal. E, segundo o Governo, o GN estará na Península Ibérica em phasing out, pelo que também não se justifica em termos de GN uma nova interligação Portugal-Espanha em complemento das duas já existentes. Nas interligações elétricas entre Espanha e França, apenas se fala agora na necessidade em acelerar a ligação através do golfo da Biscaia, já acordada na cimeira com Macron em Lisboa, em julho de 2018, e não se considera o acordo do tempo de Passos Coelho para se construírem mais duas interligações através dos Pirenéus. Mas ao contrário da dicotomia que Paulo Rangel fez entre as nossas renováveis e o nuclear francês, essas conexões, porque são obviamente bidirecionais, possibilitarão a exportação para a Europa dos nossos excedentes de renováveis intermitentes, quando tivermos muito vento, sol e água, e permitirão também importar energia, designadamente da nuclear francesa, em situações de pouco vento e seca como temos tido. Benéfico para todos.

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