LUÍS MIRA AMARAL

REPowerEU OU EUROPA SEM ENERGIA E SEM INDÚSTRIA? – Em 21 de abril de 2008, numa Conferência sobre Energia, organizada pela Ordem dos Engenheiros, CIP, AIP e AEP,eu dizia: ”No que toca às renováveis, a sua volatilidade e intermitência não permitem infelizmente que elas se configurem como única alternativa às fontes de energia que satisfazem a base do diagrama de carga das grandes economias industrializadas. O caso da Alemanha é paradigmático, pois tem-se empenhado nas renováveis, mas se quiser suprimir a via nuclear, aumentará a importância do carvão e do gás natural (GN), ou seja mais CO2 e mais dependência da Rússia.” 

E a minha experiência de engenheiro de redes da EDP e de Professor de Produção e Transporte de Eletricidade no IST também me levou a prever que os nossos sistemas elétricos com renováveis intermitentes iriam ficar cada vez mais dependentes das centrais de GN, com estas a servirem de pronto-socorro à intermitência das renováveis e a marcarem o preço da eletricidade nalgumas horas. 

A Alemanha gastou em 20 anos 550 mil milhões de euros nas energias eólica e solar, mas acabou na situação que antecipei em 2008 e levou a União Europeia, seguindo a estratégia alemã, para uma situação gravíssima na energia,dependendo em 57% do exterior para o seu aprovisionamento e com uma perigosa dependência da Rússia,enquanto que os EUA são autossuficientes em termos energéticos e com uma energia bem mais barata do que a que utilizamos. Também não quisemos explorar o gás de xisto que havia no nosso subsolo, ao contrário dos EUA, e ainda há um ano a Comissão Europeia na sua taxonomia financeira, em dirigiste mood sintonizado com a religião climática,queria proibir o carvão, o GN e a energia nuclear, quando agora já se recomenda que se utilize o carvão e o nuclear para reduzir a dependência do GN…  

A invasão da Ucrânia veio agora tornar evidente aos olhos do grande público tudo isto. Em vez duma transição energética, quis-se fazer uma disrupção acabando abruptamente com as formas clássicas e incumbentes de energia. 

Neste contexto, a Comissão Europeia apresentou o seu plano, o REPowerEU, para fazer face a esta dramática situação. O REPowerEU assenta nos seguintes eixos: Economizar energia; Diversificar o aprovisionamento; Acelerar a implantação das energias renováveis; Reduzir o consumo de combustíveis fósseis na indústria e transportes,substituindo o petróleo, o carvão e o GN na indústria, através da eletrificação e do hidrogénio verde e da aceleração para veículos com emissões nulas nos transportes. 

Mas, depois da dependência da Rússia na energia, acabaremos dependentes da China na produção industrial das tecnologias da descarbonização! A produção de painéis fotovoltaicos já migrou para a China, os produtores europeus de geradores eólicos estão já em sérias dificuldades económicas, e os materiais para a produção de baterias bem como a respetiva cadeia de valor até à produção de baterias já são controlados pela China. Em suma, Europa sem energia e sem indústria… 

 

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