SEM CARVÃO – Portugal acabou com o carvão na produção de eletricidade enquanto a Alemanha o mantém. Os Verdes, agora no governo, estarão invejosos do nosso país, líder da descarbonização a nível europeu, quiçá mundial, emitindo apenas 0,15% do CO2 mundial, enquanto se bate com a Bulgária para ser o mais pobre da União Europeia… A EDP fechou Sines, a unidade a carvão mais eficiente e limpa da Península Ibérica, quando os custos de produção da eletricidade a carvão eram mais elevados do que os custos com as centrais a gás natural (GN) devido aos encargos com a emissão do CO2 serem, no carvão, superiores aos do GN. Mas com o disparo do preço do GN, para preços deste de €92/MWh térmico e do do carvão de $240/tonelada e com o CO2 em €60/tonelada, a situação inverteu-se com um diferencial a favor do carvão de €57/MWh.A Agência Internacional de Energia estima assim para 2021 um recorde mundial na produção de eletricidade pelo carvão, o qual será responsável na Alemanha por mais de 25% da eletricidade produzida.O fecho agora da central a carvão do Pego retira flexibilidade a um sistema que fica unicamente dependente do GN como backup térmico em termos de potência e até em energia, essencial em ano seco, encarece de forma significativa os custos de produção da eletricidade devido ao diferencial atrás referido a favor do carvão, e põe mesmo em causa a segurança do abastecimento. Em Portugal tínhamos em 2020 uma capacidade instalada com carvão de 20.413 MW e sem carvão de 18.657 MW para uma ponta máxima de consumo de 9888 MW verificada em janeiro de 2021 à hora de jantar. Ora a essa hora não há sol e, portanto, a contribuição da energia solar é nula, enquanto que a contribuição da eólica em termos de potência disponível, a chamada “potência firme”, será estatisticamente apenas de 7% da capacidade instalada. Fazendo através dessa análise estatística as contas para todo o sistema produtor, obtém-se uma potência firme com as centrais a carvão de 10.048 MW a essa hora e de apenas 8379 MW sem elas, o que será manifestamente insuficiente para cobrir a referida ponta de consumo de 9888 MW. Num contexto em que os franceses vão parar 14 grupos nucleares, levando a um inverno extremamente difícil, não podendo ajudar a Península Ibérica, e em que a Espanha já pediu à EDP e à Endesa para reativarem centrais a carvão e poderá também não ter condições para nos ajudar se tivermos um inverno muito rigoroso, o fecho do Pego, antes da entrada em serviço do aproveitamento hidroelétrico do Alto Tâmega, foi muito imprudente! A central a carvão do Pego era muito importante pela potência firme que assegurava para cobrir as pontas de consumo. Esperemos que se aprenda a lição e não se venha a fazer o mesmo com a central a GN da Tapada do Outeiro em 2024 quando acabar o Contrato de Aquisição de Energia. Sem carvão, precisamos como pão para a boca das centrais a GN para assegurarem a potência firme e até o fornecimento de energia em ano seco.