A TEMPESTADE ELÉTRICA – Estamos a assistir à escalada do aumento dos preços da energia elétrica nos mercados grossistas europeus, designadamente no Mercado Ibérico da Eletricidade (Mibel). No mês de maio e em termos de média mensal, Itália e o Mibel-Portugal+Espanha aparecem com os valores mais altos. Os países nórdicos tinham mais hidroeletricidade nessa altura (efeitos do degelo) e apresentam médias mais baixas. Na França fez-se sentir o peso da energia nuclear, o que levou a menor recurso às centrais térmicas a carvão e gás natural.
No Mibel, e também em Itália, o vento falha em horas críticas do diagrama de carga, não produzindo as renováveis intermitentes o suficiente para equilibrar a produção com o consumo. Estamos assim em Portugal no pior de dois mundos: temos mais de 5000 MW de eólica a preços muito elevados que vamos ter de pagar até 2032, que não produz por não haver vento nas horas mais críticas, e depois produz em horas em que não necessitamos, mas pagamos essa energia nos Custos de Interesse Económico Geral! Esta situação leva à necessidade de utilização de centrais térmicas para fazer esse equilíbrio, funcionando então tais centrais como central marginal (a última a entrar para fechar o equilíbrio da oferta com a procura), ditando então o preço de fecho do mercado grossista. Esse preço é então influenciado não só pelo aumento do preço do gás natural (GN), mas também pela escalada do preço da tonelada de CO2 emitido, que passou em pouco tempo de 8€ para mais de 55€!
Um exemplo muito simples ilustra o que se está a passar. A central a gás natural da Tapada do Outeiro tem um rendimento termodinâmico à volta dos 50% e uma emissão de CO2 de cerca de 0,4 toneladas/MWh. Para um preço de GN de 38€/MWh e um custo de 55€/tonelada de CO2,o custo variável de produção dessa central será, em termos simples: 38€/0,5+0,4×55€/MWh=98€/MWh, em que a primeira parcela está ligada aos custos do GN e a segunda aos custos do CO2 emitido. A ERSE tinha estimado para o ano 2021 um valor à volta de 50€/MWh.
Quanto à central a carvão do Pego (Sines já fechou),o seu custo variável de produção ainda será maior, pois a emissão de CO2 é quase tripla da de GN, embora o custo do carvão seja mais baixo. Por isso, nas geografias em que o CO2 é barato temos o ressurgimento do carvão! Em Portugal, preparamo-nos agora para fechar também essa central a carvão do Pego, o que em 2022, se tivermos um ano seco, poderá levar a problemas de segurança de abastecimento por falta de potência térmica firme em horas críticas do diagrama de carga.
Acontece que essa combinação entre um aumento sustentado do preço da energia (eletricidade, gás natural e gasóleo) e a total ausência de medidas de proteção semelhantes às adotadas noutros Estados-membros da União Europeia penaliza fortemente a competitividade da indústria nacional e pode inviabilizar, a curto prazo, a permanência de várias instalações industriais em Portugal, como aconteceu já com uma produtora de vidro duma empresa francesa.