LUÍS MIRA AMARAL

PORTUGAL E A BAZUCA EUROPEIA EM 2021Portugal está atravessar a maior crise económica dos últimos cem anos com elevada destruição da atividade económica e profundas consequências sociais, devido à pandemia da COVID-19. 

Segundo as projeções da Comissão Europeia, seremos o 5.º país da União Europeia(UE) com maior queda do PIB em 2020 e estaremos entre os três (Portugal, Espanha e Itália) com maior queda conjunta no período 2020-2021. A dependência que as três economias têm do turismo ajuda a explicar essa posição relativa. Mal recuperados da bancarrota de 2011, tivemos um novo choque negativo em 2020, maior do que o sofrido pelas economias do Leste europeu. Portugal acelera assim a sua descida para a cauda da UE, acabando de ser ultrapassado pela Polónia em termos de PIB per capita em paridades do poder de compra e existe uma forte possibilidade de que até 2025 sejamos ultrapassados pela Eslováquia e Roménia, ficando apenas atrás de nós a Bulgária! E se não houver uma alteração significativa das políticas económicas que levem a uma aceleração do crescimento do PIB, arriscamo-nos, com a COVID, a ter uma queda permanente do PIB entre 12 e 15 mil milhões de euros. 

Teremos tido em 2020 um défice público entre 8 e 10% do PIB e uma queda deste entre 9 e 12%. Até agora e ainda sem a ajuda da bazuca europeia, o governo jogou à defesa, certamente consciente da fragilidade das nossas finanças públicas, contrariamente ao que dizia antes da pandemia, e a ajuda pública portuguesa às empresas, trabalhadores e famílias, não terá excedido os 5% do PIB, enquanto na Alemanha e nos Estados Unidos o apoio público terá atingido os 15% do Produto. Com todas as incertezas duma situação dependente da evolução da pandemia, estima-se para Portugal em 2021 um crescimento do Produto entre os 2 e os 5%, um défice público superior a 4 % do PIB e uma dívida pública a ultrapassar os 130% do PIB. 

Resultando numa “pipa de massa” a aplicação da bazuca europeia a Portugal, é óbvio que tal injeção de dinheiro vai ter impactos positivos de curto prazo no Produto através do multiplicador da despesa. Mas estando o país há cinco anos em completa inação estrutural e se assim continuar, mantendo-se a atual solução política de Governo à esquerda, esse impulso keynesiano vai-se esbater a prazo por estrangulamentos do lado da oferta, ligados a uma deficiente afetação de recursos e à ausência dos corretos incentivos económicos para a criação de riqueza. Por outras palavras, na ausência das reformas estruturais que libertam o potencial produtivo, o PIB potencial, aquilo a que costumo chamar a capacidade produtiva da fábrica Portugal SA, não sairá da sua medíocre trajetória de crescimento e o impulso de curto prazo não terá sustentabilidade. Haverá pois o risco de despejarmos dinheiro sobre a economia, não resolvendo os seus problemas estruturais, pelo contrário até os agravando nos casos em que se gasta mal o dinheiro! 

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