LUÍS MIRA AMARAL

O PLANO COSTA SILVA – A pedido do primeiro-ministro, Costa Silva, engenheiro de minas, escreveu 142 páginas densas e maçudas, sem sequer um sumário executivo. O vírus ideológico da juventude e a falta de adequada formação económico-financeira explicarão os erros, omissões e contradições do documento. O texto é um catálogo completo de intenções de investimento público, sem hierarquização de prioridades e análises custos-benefícios. Terá o mérito de juntar num único documento as ideias que têm tido eco na imprensa na última década, e permitir aos decisores políticos fazer cherry picking. Parte de um diagnóstico deficiente, porque não fala da estagnação dos últimos 20 anos, e errado por supor que os problemas estruturais se devem a um modelo ultraliberal que nunca houve em Portugal, antes pelo contrário, sempre houve uma intervenção excessiva do Estado com más políticas públicas que levaram a uma péssima afetação de recursos e à consequente anemia económica. Propõe-se ser muito ambicioso em termos do reforço do Estado na economia, mas não valoriza suficientemente a necessidade de ter uma administração pública muito qualificada e motivada. A falta de capacidades de planeamento estratégico e de estruturas de análise prospetiva é particularmente evidente na atual administração pública portuguesa.

Aposta e bem na reindustrialização e no aproveitamento dos recursos naturais, designadamente dos minerais, onde temos agora uma janela de oportunidade com o lítio, enquanto a bateria de ião-lítio for competitiva. Mas não dá suficiente ênfase à capacidade empresarial e à formação dos recursos humanos. A falta de quadros intermédios qualificados é uma dificuldade dramática com que se deparam as empresas portuguesas, sendo o ensino profissional detestado pelo sistema educativo e pela esquerda portuguesa, como se tem visto pelas reações à proposta alemã de colaboração para a implementação em Portugal do modelo dual onde os alemães têm grande êxito e que contribui para o sucesso industrial alemão. Também não dá o devido destaque ao investimento direto estrangeiro, essencial quer para captar a poupança externa, numa economia sem capital e altamente endividada, tanto ao nível do Estado e das empresas públicas como das famílias e empresas privadas, quer para reforçar a reindustrialização. Neste contexto ainda parece não ter consciência do endividamento da nossa economia, propondo-se criar um fundo soberano. Aqui vê o filme ao contrário, pois tal fundo é um ativo enquanto nós temos é um passivo soberano, a elevada dívida pública que não o preocupa mas que convinha reduzir! Aposta no TGV Lisboa-Porto e nas ligações ferroviárias à Europa, mas é omisso sobre a bitola europeia e as linhas mistas para mercadorias e passageiros. O documento fala, e bem, na integração das cadeias logísticas, mas estas só serão verdadeiramente integradas se estiverem ligadas aos portos nacionais e à Europa através de linhas ferroviárias em bitola europeia.

 

 

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