LUÍS MIRA AMARAL

Da economia linear à economia circular

Num processo produtivo utilizam-se energia, água e matérias-primas, que são transformadas no produto útil, que consumimos, e no produto inútil­ – poluição e resíduos. Este é o velho modelo de economia linear que já não responde às necessidades atuais, não podendo o nosso futuro repousar nesse ciclo “extrair-fabricar-descartar”. Na economia da reciclagem, época em que introduzimos o ambiente na política industrial e lançámos o PEDIP-Ambiente em exemplar cooperação com os ministérios do Ambiente de Carlos Borrego e Teresa Gouveia, começou a reutilizar-se no processo produtivo uma parte dos resíduos gerados. Hoje em dia na economia circular procu­ra-se pôr a economia a funcionar como um ecossistema que tendencialmente não gera desperdícios, pois que eles devem ser sempre um input para qualquer coisa adicional. No limite, nada se perde e tudo se transforma, tendendo para uma completa retroação de resíduos no processo produtivo e de aproveitamento económico dos desperdícios. Chegamos assim às chamadas matérias-primas secundárias, as quais podem ser transacionadas, comercializadas e expedidas de novo, tal como acontece com as matérias-primas primárias dos tradicionais recursos extrativos. Tal aumenta obviamente a segurança do abastecimento nas economias. E, segundo Schumpeter, a procura de novas matérias-primas é um dos tipos de inovação, levando-nos à ecoinovação. Por outro lado, ao procurar novas matérias-primas (através da reciclagem, da reutilização ou do aproveitamento de subprodutos) podemos chegar, através dum novo design, a novos produtos, a novos processos ou até formas de comunicar com o mercado para vender o novo produto ou processo. Alargamos assim o conceito de ecoinovação ao eco-design e ao marketing verde, este último englobado no conjunto dos instrumentos de promoção do marketingmix. A economia circular vai ainda criar novas cadeias de valor que permitem desacoplar o crescimento económico da dependência de inputs escassos e lineares. A economia circular deve intervir em todo o ciclo de vida do produto, começando pelo seu design, passando pelo processo de produção e pela reciclagem no fim desse ciclo de vida e acabando na gestão dos resíduos/desperdícios que não foi possível reciclar no fim do processo produtivo. Como tendencialmente na economia circular tudo se transforma e nada se perde, os resíduos num processo produtivo devem ser reduzidos ao mínimo (tendencialmente zero), e para atingir esse objetivo essa preocupação deve começar logo no design dos produtos. Numa economia circular os materiais são divididos em: materiais biológicos, os quais são biodegradáveis e que, por não serem tóxicos, podem regressar em segurança à atmosfera; materiais técnicos, que não são biodegradáveis, e que por isso têm de ser geridos por forma a circularem continuamente na tecnoesfera dos ciclos industriais. Esta passagem para a economia circular tem de ser feita em estreita cooperação com as nossas empresas, pois são elas que criam riqueza, e não ameaçando as empresas, como querem sempre os talibãs ambientais, explicando-lhes as ameaças mas também as inúmeras oportunidades de negócio e os impressivos aumentos de eficiência associados a este novo modelo.