O DIESEL E O AMBIENTE – “Se a tecnologia vai assegurar a neutralidade em CO2 e NOx entre diesel e gasolina, deixem o mercado funcionar e os clientes escolherem, até chegarmos à era elétrica”
Matos Fernandes, o ministro da Transição Energética, decretou o fim dos carros a diesel. O diesel e a gasolina punham problemas diferentes ao ambiente. Os motores a diesel emitiam os ácidos de azoto (NOx) prejudiciais à saúde e ao ambiente local. Pelo ciclo de Carnot quanto mais alta a temperatura de fonte quente, maior a emissão de NOx, maior a eficiência termodinâmica e menor o consumo de combustível. Daí as altas emissões de NOx que estiveram no caso do “dieselgate” que atingiu a VW. Desde aí tem havido progressos tecnológicos notáveis no controlo e limitação do NOx e já existem veículos próximos da norma Euro 7 que resolvem o problema. Ainda agora vi o anúncio de um novo Jaguar que praticamente já não emite NOx. Os velhos diesel da norma Euro 5 constituem de facto o problema. Mas o curioso em Portugal, e não só, é que se as autoridades quiserem banir os veículos da norma Euro 5, o que irá acontecer ao parque das polícias, das forças armadas, bombeiros, INEM? Continua ou é integralmente renovado? Este ataque ao diesel está a fazer com que a gasolina apareça agora como o combustível de transição para aqueles que julgam que o futuro será o carro elétrico. Um veículo a gasolina emite em média mais 15% de CO2 do que um veículo a gasóleo, o que está a levar ao aumento de emissões de CO2! Se bem que o CO2 não seja um poluente a nível local, os meios políticos e ambientais acreditam que contribui para o efeito de estufa e logo para as alterações climáticas, embora tal seja contestado por alguns cientistas, entre os quais o malogrado professor Delgado Domingos. Logo, a fuga ao diesel e o recurso à gasolina está a provocar o disparo das emissões de CO2 com o consequente aumento dos problemas ambientais ao nível global! Mas a norma Euro 7 prevista para 2023 vai colocar os dois combustíveis em pé de igualdade no que toca às emissões de CO2, NOx e partículas. Assim, em vez de se precipitarem, aconselho os políticos a estudarem a evolução das tecnologias que vão permitir resolver o problema e, se o fizerem, evitam anúncios extemporâneos sobre o fim do diesel. Se a tecnologia vai assegurar a neutralidade em CO2 e NOx entre diesel e gasolina, deixem o mercado funcionar e os clientes escolherem, até chegarmos à era elétrica. Neste momento considero que o veículo elétrico puro é um autêntico greenwashing a nível de ambiente global e ainda tem três problemas complicados: preço elevado, o que torna a sua procura muito dependente dos apoios públicos; autonomia limitada, levando a um problema que eu já senti, o da range anxiety; e estações de carregamento. Mas isso será matéria para outra crónica. Para terminar, conto-vos uma discussão na RTP2 com uma professora de Economia do Ambiente. Quando eu lhe chamava a atenção para as emissões de CO2 na produção e reciclagem das baterias dos automóveis elétricos, a senhora dizia-me que a tecnologia iria resolver esse problema, mas quanto à evolução tecnológica para limitar o NOx no diesel, aí dizia que tal não ia acontecer. Está de facto a passar-se um problema curioso com a comunidade ambiental: naquilo que gosta, a tecnologia evolui e resolve ou minimiza o problema; para aquilo que não gosta, a tecnologia é estática, não evolui e, portanto, o problema mantém-se… Trata-se obviamente de uma abordagem muito enviesada que pode levar a sérios erros na afetação de recursos e levar a escolhas erradas ou precipitadas pelos decisores políticos.