LUÍS MIRA AMARAL

O PROJETO PORTER E O IMPASSE PORTUGUÊS

Michael Porter é um reputado guru de estratégia empresarial. Trouxe-o a Portugal em 1992, liderando uma equipa que conjuntamente connosco, no então Ministério da Indústria e Energia, elaborou o “Projeto Porter”. Convidei empresas privadas e públicas a financiarem o estudo, em conjunto com as agências públicas como o IAPMEI, ICEP e IEFP. Todos aceitaram com entusiasmo o convite e tivemos então uma verdadeira cumplicidade estratégica entre o Estado e o Mercado, aquela que interessa fazer para jogar ao ataque e promover a competitividade empresarial do país. O projeto seguiu a teoria desenvolvida no seu livro The Competitive Advantage of Nations, contemplando duma forma sistémica as duas ferramentas teóricas do modelo Porter: o “diamante” (ou losango) e a teoria dos clusters. Segundo o modelo, a competitividade de cada nação reside na otimização desse “diamante” aplicado aos clusters setoriais regionalmente concentrados, em que o país já possui vantagens comparativas, suportadas em políticas públicas horizontais. Essas políticas públicas e a intervenção do Estado na economia destinavam-se justamente a polir e dar brilho aos vértices do “diamante”. O Fórum para a Competitividade (FPC) iria, em Portugal, “portugalizar” o Relatório Porter, dando sequência ao trabalho encetado. Veio então o governo PS-Guterres, e numa chocante manifestação de sectarismos político e partidário (não foi infelizmente a única…) acabou com o Projeto Porter, não o apoiando financeiramente. O Governo tinha 50 milhões de contos para apoiar a recuperação de 2 mil empresas inviáveis (parece que só recuperou duas…) tentando aguentar um passado inviável, mas não deu 500 mil contos para apoiar a viabilização financeira do FPC, de acordo com a proposta de Belmiro de Azevedo, ou seja não quis apoiar a preparação do nosso futuro coletivo. Para o PS, em tudo deveria haver concertação estratégica entre o Estado e o Mercado, mas no FPC foram neoliberais, dizendo que o Projeto devia aguentar-se só pelo mercado com financiamento privado… Curiosamente, o governo PS aproveitou a ideia dos clusters trazida pelo Projeto Porter para os seus textos de orientações e de política económica, mas como foi habitual na governação PS, tal não passou de produção de papel sem efeitos concretos na sociedade e na economia… Apesar de tudo, com a sua aplicação verificaram-se, graças ao setor privado, melhorias nos setores do calçado (design, pequenas séries), do têxtil e vestuário (quick response), dos vinhos (qualidade), do mobiliário (design, qualidade), mas com um enfoque elevado no lado do losango “fatores de produção”, médio nas “condições da procura” e baixo na “rivalidade, estrutura e estratégia da empresa” e “indústrias relacionadas e de suporte”. Nas variáveis horizontais relacionadas com as políticas públicas, as melhorias foram muito ténues, devido às deficiências das políticas seguidas pelos governos PS.