O PIB Potencial e a fábrica Portugal SA
Estamos a ter um longo período de crescimento económico, com Europa, América e Ásia a crescer de forma sincronizada. Portugal, na sequência do Programa de Ajustamento e a reboque desta conjuntura fabulosa de taxas de juro muito baixas, de petróleo barato, de crescimento europeu e de boom turístico, teve em 2017 o maior crescimento do século, convergindo com a Europa. Foi, contudo, um crescimento com fraca qualidade, com queda da produtividade, porque não houve mudanças estruturais, e não deverá ser sustentável, como se explica adiante. Mas 14 países europeus cresceram mais do que nós, entre os quais Chipre, Irlanda e Espanha, também sujeitos a programas de ajustamento. Só crescemos acima da Europa porque Alemanha, França, Reino Unido e Itália cresceram menos do que nós e o seu peso na economia europeia puxou para baixo o crescimento comunitário. E no ranking do crescimento de riqueza per capita já estamos na 24.ª posição entre os 28 da UE. O emprego, ajudado pelo boom turístico criando postos de trabalho temporários e pouco qualificados, está a crescer mais do que o PIB, o que leva a que a produtividade aparente do trabalho esteja a baixar. Com o emprego a subir 3,2% no 4.º trimestre de 2017, o PIB deveria estar a crescer a 4,5% nesse trimestre e não a 2,4%, se a produtividade não estivesse a baixar! Não estamos a aproveitar a fabulosa conjuntura para atacar as nossas debilidades estruturais e temos dois problemas que vão pôr em causa este crescimento: a baixa taxa de poupança que nos levará a recorrer à poupança externa e logo ao endividamento para financiar o investimento, o que causará pressões não sustentáveis nas contas com o exterior; o baixo crescimento do PIB potencial. Para explicar o que é o PIB potencial recorri a uma imagem compreensível para o grande público: é a capacidade instalada da fábrica Portugal SA. Pode-se ultrapassar a capacidade instalada numa organização, mas entramos em ineficiência com sobrecustos e stress sobre a organização, não sendo tal sustentável a prazo. É o que acontece à nossa economia, pois o PIB já é superior ao PIB potencial e por isso iremos desacelerar e voltar a divergir com a Europa. É, pois, crucial aumentar o PIB potencial, ou seja, libertar o nosso potencial produtivo desenferrujando a fábrica Portugal SA! Para isso são necessárias as reformas estruturais e as políticas públicas do lado da oferta, política industrial inclusive. Neste contexto, como presidente do Conselho da Indústria da CIP, coordenei o relatório “O Conceito da Reindustrialização, Indústria 4.0 e Política Industrial para o Século XXI – O Caso Português” (cip.org.pt) com o objetivo de contribuir para o processo de reindustrialização e dinamização do PIB potencial. O programa da troika forçou as empresas a virarem-se para os mercados externos, a nossa capacidade empresarial soube responder e a boa conjuntura externa tem ajudado. As exportações industriais estão num bom momento, mas não nos podemos resignar a ficar na cauda da Europa!