O PÓS-PASSOS COELHO
Após 12 anos de governos socialistas, intervalados pelas duplas Barroso-Ferreira Leite e Santana-Bagão, as quais pela sua incapacidade deixaram já um défice público de mais de 6% do PIB, chegámos à bancarrota. Passos Coelho governou em condições muito difíceis e executou com grande coragem o resgate. Mas logo percebi a imaturidade e radicalismo da jovem dupla Coelho-Gaspar, levando a um ajustamento de fraca qualidade estrutural, sem reforma do Estado, como aqui expliquei em “O Ajustamento à Portuguesa”. Por outro lado, o FMI, sem experiência de resgates em moeda única, subestimou o multiplicador orçamental, sendo a redução do défice público inferior ao previsto, mas a queda do PIB superior ao planeado. Conviria ter mantido o PS on board, como responsável da situação, mas Coelho disse que iríamos além da troika, o que facilitou a desresponsabilização do PS. A esquerda diz injustamente que ele é um neoliberal. Se o fosse, teria cortado no monstro público em vez de nos brindar com um brutal aumento de impostos! E no que toca a ter esquecido a social-democracia, também Soares, num dos resgates, meteu o socialismo na gaveta! Mas mostrou efetivamente grande insensibilidade social. Tentou reduzir a TSU para as empresas, aumentando-a para os trabalhadores, pondo estes a financiarem a competitividade empresarial, o que era inaceitável para eles como empresários e gestores perceberam. A iniquidade também se revelou chocantemente ao não cortar as rendas excessivas na eletricidade enquanto carregava nos funcionários e pensionistas do regime contributivo. Com ele como PM e o Estado como acionista, Catroga substituiu na EDP António de Almeida, do PS, reforçando-se assim a pressão sobre o Governo, como o Expresso noticiou. Com ele Moreira da Silva tomou conta da energia, reforçando assim o lóbi eólico através da dupla Pimenta-Silva. Não privatizou, antes vendeu rendas excessivas na EDP e ANA e rendas reguladas na REN! Perdido o poder, não foi líder da oposição, antes PM no exílio, não leu a conjuntura económica, esquecendo que a recuperação económica já tinha começado com o seu governo, e viu o Diabo. Não conseguiu fazer a adequada leitura política do chocante colapso do Estado em Tancos e Pedrógão, teve razão na Lei dos Estrangeiros, concordando com o SEF, mas confirmou o seu autismo no dossiê autárquico com a derrota em Lisboa. Deixa um PSD entalado entre o atual PM, um habilíssimo gestor da conjuntura, e uma senhora que, embalada com o resultado em Lisboa, ambiciona liderar o centro-direita. Agora o PSD, ao escolher um novo líder, está também a escolher aquele que será candidato a futuro PM de Portugal. E convinha virmos a ter um PM para Portugal e não um PM para Lisboa… Esse é o perfil do Dr. Rui Rio, que mostrou em três mandatos na Câmara do Porto a coragem, o savoir faire político, a competência e o rigor que são indispensáveis para termos um PM para Portugal.