LUÍS MIRA AMARAL

PAG 17_EGR7738A INDÚSTRIA 4.0

O Ocidente começa de novo a pensar na indústria pois há uma ligação entre produção industrial, desenvolvimento tecnológico, inovação, serviços e emprego qualificados. Os EUA tinham assistido à liquidação de uma parte da sua base industrial tradicional, tendo-se transformado numa base de serviços avançados e respetiva indústria e serviços de suporte, assentes no conhecimento e inovação. Os EUA sofreram um processo de desindustrialização, ficando apenas com as fábricas de produção de conhecimento que lhes permitiam conceber e fazer a engenharia de desenvolvimento de novos produtos, mas deslocando a produção manufatureira para os países emergentes como o México e a China. Os EUA querem voltar a produzir de novo no seu território, e esta reflexão começou antes da eleição de Donald Trump, tendo vindo a desenvolver programas como o da “manufatura aditiva”, da qual o exemplo mais evidente é o da impressão 3D. Ela difere da manufatura tradicional, que funciona através do corte ou da perfuração de materiais para obter o produto final. Na manufatura aditiva criam-se objetos pela adição sucessiva de layers de materiais, indo dos plásticos ao metal e à cerâmica. As impressoras 3D estão a ter mais aplicações porque o avanço nas ciências dos materiais permite maior utilização dos “tinteiros”. A Alemanha, que não teve um processo de desindustrialização, desenvolveu o conceito de Indústria 4.0 quer para fazer o upgrading dos setores industriais que já eram muito competitivos à escala mundial, quer para desenvolver e oferecer, à mesma escala, um conjunto de tecnologias digitais que suportam o desenvolvimento da Indústria 4.0. Os meios de produção estarão ligados digitalmente, as cadeias de abastecimento estarão integradas e os canais de distribuição serão digitalizados. Teremos a integração entre o mundo físico e o mundo digital, através dos chamados sistemas de produção ciberfísicos (CPS – cyber-phisical systems), repousando numa digitalização dos processos de produção com troca de dados, durante o processo de fabricação, entre produtos e máquinas, por um lado, e entre diferentes atores das cadeias de produção e das cadeias de valor, por outro lado. Teremos assim: ao nível da fábrica, integração vertical e sistemas de produção digitalmente integrados; integração digital ao longo de todos os segmentos da cadeia de valor da empresa (end-to-end engineering); colaboração digital entre as empresas, através da integração horizontal entre redes de valor. A Indústria 4.0 é no fundo um mosaico tecnológico de: Big Data e Advanced Data Analytics; Robotização; Nanotecnologias e Fotónica; Simulação 3D de produtos, materiais ou processos ao longo da cadeia de produção; Sistemas digitais de integração horizontal (entre empresas) e vertical (interempresas); Internet das Coisas (IOT); Cibersegurança; Cloud; Manufatura Aditiva e Impressoras 3D; Sistemas Ciberfísicos (cyber-physical systems – CPS); Inteligência Artificial e Máquinas Cognitivas; Interfaces inteligentes com os utilizadores através da Psicométrica. A implantação da Indústria 4.0 é um processo multianual, e mais aplicações se desenvolverão à medida que as tecnologias se forem tornando maduras. A convergência entre o mundo físico, as tecnologias digitais, os sistemas biológicos e as ciências da vida dá origem à 4.ª Revolução Industrial. Se tivéssemos apenas tecnologias digitais, estaríamos quando muito no aprofundamento da 3.ª Revolução Industrial, aquela em que a eletrónica substituiu a eletromecânica e em que os sistemas analógicos foram mudados para sistemas digitais. A política industrial portuguesa tem obviamente que apoiar as empresas na introdução do modelo da Indústria 4.0, mas não se pode reduzir a isso! Com efeito, ainda temos um conjunto de fragilidades que os alemães já resolveram! Em certos casos, como diriam os franceses, já não será mau agarrarmos a Indústria 3.0!