REINDUSTRIALIZAÇÃO E INDÚSTRIA 4.0
Há uma ligação entre produção industrial, desenvolvimento tecnológico, inovação e emprego qualificado. Infelizmente, a reindustrialização enfrenta grandes dificuldades na Europa e em Portugal, em que a política energética é apenas um subproduto da política ambiental irrealista e destruidora de empregos. A Europa e o Japão são os blocos económicos com preços de energia mais elevados. Se no passado a Europa foi sujeita a uma deslocalização industrial para os países emergentes pelo preço do fator trabalho, hoje sofre essa ameaça para os EUA pelos preços da energia, a qual se estende também à deslocalização para outros países não sujeitos às rigorosas regras da União Europeia. Sem indústria (e sem serviços ligados ao setor industrial), a economia perde a sua capacidade de inovação e não consegue criar empregos qualificados, nem superar os choques, quaisquer que eles sejam. O conceito de reindustrialização está ligado à ideia de um retorno à indústria, mas a uma indústria de novo tipo. Trata-se de uma indústria que utiliza ao máximo as tecnologias da informação, comunicação e localização (TICLs) mais avançadas e a robótica, para desenhar, projetar e produzir produtos a partir da recolha das necessidades e dos gostos dos clientes, produtos em certos casos produzidos em pequenas quantidades, ou até individualmente, para serem entregues aos clientes diretamente, depois de uma encomenda personalizada e sem custos de armazenamento. Alguns chamam a este modelo a Indústria 4.0. A Indústria 4.0 representa ainda a entrada definitiva das Tecnologias de Informação no chão de fábrica, com implicações a todos os níveis do sistema de produção. O fluxo de dados partilhados em tempo real e em rede entre máquinas, robots e sistemas logísticos, permitirá antever falhas, adaptar a produção a novos cenários e integrar variáveis no processo produtivo – com informação vinda dos clientes, por exemplo – que de outra forma seria impossível. Os setores da indústria chamados tradicionais são tão passíveis de modernização tecnológica como os outros considerados mais avançados. A indústria de confeção, os setores do calçado, cerâmica, vidro, mobiliário, metalomecânica, ou quaisquer outros, são bons exemplos em Portugal. Em Portugal, a agricultura e a indústria representavam em meados dos anos 1990 quase 30% do PIB. Hoje representam apenas 16%! Neste contexto, é imperativa uma nova Política Industrial centrada na competitividade das empresas e que desse modo possa assegurar um crescimento sustentado das exportações. Reindustrializar não significa, pois, voltar a modelos do passado assentes em mão de obra barata, mas sim aderir ao modelo da economia do conhecimento, injetando conhecimento e engenheiros nas empresas em articulação com as universidades, os politécnicos e o Sistema da Ciência e Tecnologia. Reindustrialização nos nossos dias não é apenas a manufatura, mas sim a produção de todos os bens e serviços transacionáveis que conseguimos não só exportar, mas em que também conseguimos reduzir, em mercado aberto e concorrencial, as importações através da produção nacional.