LUÍS MIRA AMARAL

LMAA VW, O NOx E O CO2

NOx é uma sigla para designar os gases NO (monóxido de azoto) e NO2 (dióxido de azoto). Estes compostos formam-se em condições de pressão e temperatura elevadas, como as que se verificam no interior dos cilindros dos motores de combustão, em pequena quantidade nos movidos a gasolina e em grande quantidade nos que consomem diesel. Contribuem para a formação de chuvas ácidas e do nevoeiro fotoquímico e o NO2 causa irritações nos pulmões e diminui a resistência às infeções respiratórias (como a asma), sendo por isso mais afetadas as crianças e a população com doenças respiratórias. Ao contrário, o CO2, que é o referido nas emissões dos carros, não é poluente. Então a VW arranjou um software para ser colocado nos seus carros a diesel, para que nos testes o motor ativasse todos os dispositivos antipoluição e assim passasse nos testes americanos de NOx, muito mais severos que os europeus. Estima-se que haja cerca de 11 milhões de carros da VW, circulando não só nos EUA mas também na Europa, que tinham esse software. Mas os reguladores americanos começam também a dizer que outras marcas do grupo VW, como a Porsche e a Audi, também estariam a utilizar o mesmo tipo de software para contornar os testes de NOx. Acabado o teste, o software era desativado ou ajustado para uma performance muito mais poluente e os carros conduzidos em condições normais emitiam NOx em níveis muito superiores ao permitido nos EUA! É claro que não bastará mudar ou tirar esse software para resolver o problema nos EUA. Isso terá de ser feito através de técnicas como o LNT (Lean NOx trap), injetar uma solução à base de ureia que torna o NOx inofensivo em azoto vulgar e outras soluções que a espantosa evolução da tecnologia diesel tem permitido, e por isso os níveis de emissões têm vindo a baixar. Curiosamente essa solução à base de ureia já é utilizada nos camiões a diesel com a designação comercial de BlueTEC, e em Portugal até já era comercializada pelo grupo CUF a partir da fábrica do Lavradio com o nome comercial A Conferência Blue. Tal solução obviamente implica um pequeno incómodo para os condutores e mais uns cêntimos. Será também necessário que os testes das emissões sejam feitos em condições mais semelhantes às da condução normal, como a Comissão Europeia vai propor. Curiosamente, já havia uma legislação europeia de 2007, o “Real Driving Emissions test”, que obrigava à medição das emissões em condições reais de condução e não nas condições artificiais dos testes, mas nunca chegou a ser implementada. Agora estará finalmente definido o calendário de implementação para a Europa dos testes de emissões em condições de utilização reais, dentro de dois anos, ou seja vai finalmente ser implementado o “real Driving Emissions Test”. Ao contrário do que dizem alguns mais apressados, a VW e a tecnologia diesel irão sobreviver. Ter-se-á, naturalmente, a concorrência de motorizações híbridas e elétricas, mas estas só serão massificadas quando houver baterias que permitam autonomias de mais de 400 km, o que ainda levará uns anos…