LUÍS MIRA AMARAL

LMAAS INTERLIGAÇÕES ENERGÉTICAS COM FRANÇA

No Governo bati-me pelo reforço das interligações entre Espanha e França, com o objetivo de poder aumentar a importação de eletricidade de origem nuclear de França. O fortíssimo lóbi ecológico sabotou esse reforço que agora defende em nome do escoamento do excesso eólico na Ibéria. Tínhamos pois razão ao dizer que havia excesso de capacidade eólica instalada! O problema é que, apesar da propaganda oficial, a Espanha não nos acompanhou, e só obtivemos no Conselho Europeu uma declaração de princípio, mas em termos práticos continuarão a curto prazo a não existir mais interligações entre a Península Ibérica e a França… O presidente francês disse ao primeiro-ministro espanhol que se queriam esse reforço, então íamos jogar a concorrência a sério e o nuclear francês também iria fazer ofertas no MIBEL (as interligações funcionam nos dois sentidos…). Então Rajoy disse que tinha de estudar melhor o assunto… Mas os produtores eólicos portugueses não têm interesse nenhum em exportar a energia excedentária! Com o regime existente, toda a energia que produzem é por nós, consumidores, paga a um preço político de cerca de 90€/MWh, quer a consumamos ou não. A diferença entre a produção e o nosso consumo é paga por nós nos famosos Custos de Interesse Económico Geral (CIEG), que, com o consumo praticamente igual ao de há 10 anos atrás, passou de 500 para 2500 milhões de euros, graças aos sobrecustos provocados por estas novas renováveis intermitentes! Esse excesso, quando exportado para Espanha (praticamente a preço zero) não nos reduz em grande coisa a fatura que pagamos nos CIEG (somos nós que tentamos vender através da exportação esse excesso que pagamos nos CIEG!), e se fosse exportado para a Europa, como tinha que competir com o nuclear francês, seria também vendido a um preço baixo, muito longe dos 90€/MWh que nos faturam, mas sempre seria melhor que a situação atual. Então porquê este circo mediático agora montado? É que o objetivo, que poucos perceberam, é o lóbi eólico injetar já mais 500 MW de potência eólica na nossa rede (a qual somada à já existente daria 5500 MW para uma potência de vazio de 3900 MW…) para ajudar a unidade de montagem de aerogeradores de Viana do Castelo! Um reforço da interligação nos Pirenéus terá naturalmente interesse para ajudar a escoar o atual excesso de eólica instalada, mas o que os produtores eólicos querem é aproveitar isso, que vai levar tempo a concretizar-se, para, agravando o problema, nos instalar já os tais mais 500 MW! Isto é inaceitável com o excesso eólico existente! No que toca aos gasodutos, como as centrais a gás natural estão praticamente paradas na Ibéria, funcionando as térmicas a carvão no apoio às eólicas, por o carvão ser mais barato que o gás natural, não há grandes fluxos nos gasodutos ibéricos e o reforço das ligações entre Espanha e França (e então entre Portugal e Espanha) só se justificará quando e se os terminais de regaseificação que temos em Portugal e Espanha começarem a ser usados para importar gás natural liquefeito, designadamente o gás de xisto americano, e o fornecerem à Europa para contrabalançar a oferta de gás russo.