LUÍS MIRA AMARAL

LMAA ECONOMIA VERDE

Nos anos 80 do século passado, a convergência entre ambientalistas moderados e empresas bem geridas permitiu encarar o binómio competitividade-ambiente de uma forma equilibrada e realista, levando ao conceito de desenvolvimento económico sustentado (não confundir com a plataforma para o crescimento insustentável de Pimenta/Moreira da Silva…). Tal permitiu ter empresas economicamente viáveis, ambientalmente sustentáveis e socialmente responsáveis. Num processo industrial transformam-se matérias-primas, energia e água nos produtos úteis que consumimos, e nos produtos inúteis, poluição e resíduos industriais. A evolução tecnológica, através das ecotecnologias, permite aumentar a eficiência do processo produtivo, melhorando o mix entre produtos úteis e inúteis e até reciclando os resíduos. Quando não há essa evolução tecnológica, então colocam-se equipamentos para limpar a poluição gerada – tecnologias de fim de linha! Um ambiente saudável deve ser assumido neste contexto como uma infraestrutura que suporta, a prazo, a produtividade e a qualidade de vida. Nos anos 1990, em exemplar cooperação com os ministros do Ambiente Carlos Borrego e Teresa Gouveia, introduzimos estes conceitos na política industrial portuguesa, criando o PEDIP AMBIENTE, que apoiou nas empresas as ecotecnologias e as tecnologias de fim de linha e lançou sistemas de tratamento coletivo de resíduos nas regiões industriais. Eu e a Teresa Gouveia, sob coordenação do Francisco Van Zeller pela CIP, lançámos os acordos com os setores industriais para o cumprimento gradual e responsável dos standards ambientais. A coisa foi a tal ponto que, numa Presidência Aberta sobre Ambiente, Mário Soares teve que nos confessar: “Desta vez vocês (Teresa Gouveia e eu próprio) fizeram o trabalho de casa!” Ao contrário do que pensam os talibãs verdes e na linha do que aqui disse sobre a exótica Comissão de Fiscalidade Verde, não há duas economias – a verde e a suja –, há só uma economia que deve respeitar o ambiente nessa gestão realista do binómio competitividade-ambiente, aproveitando também as oportunidades de mercado das indústrias do ambiente. O que não faz sentido é haver uma Estratégia de Fomento Industrial e agora aparecer o livrinho vermelho da economia verde! A taxa sobre o carbono constituirá mais uma machadada sobre a competitividade das empresas portuguesas, ou seja sobre o crescimento económico e o emprego! É ridículo introduzi-la num país responsável por menos de 0,5% das emissões europeias de CO2, emitindo a Europa apenas 11% a nível mundial e quando ela não existe na maioria dos nossos parceiros europeus e muito menos nos países extracomunitários nossos concorrentes! Vamos continuar a assistir à paragem de indústrias como a da Solvay e da Saint Gobain! Pires de Lima, que fora do Governo teve um papel muito meritório combatendo o inconsequente fundamentalismo financeiro de Gaspar (que levou a défices públicos sempre superiores aos acordados com a troika…), tendo-o feito certamente para ajudar Álvaro Santos Pereira…, devia combater o fundamentalismo ambiental em nome da competitividade das empresas. Não se pode limitar a ser um co-equipier do vice-primeiro-ministro para a diplomacia económica!