LUÍS MIRA AMARAL

O VEÍCULO ELÉTRICO

A seguir ao segundo choque petrolífero, o mundo ocidental deixou de queimar petróleo nas centrais elétricas, tendo passado a utilizar carvão e gás natural. Eu próprio estive no Conselho de Ministros da Energia em Bruxelas, em que a União Europeia aboliu a proibição da utilização do gás nas centrais elétricas, abrindo assim o caminho para a sua crescente utilização na produção de energia elétrica. Já não se utiliza pois petróleo nas centrais elétricas em Portugal e por isso é falso o que o lóbi eólico costuma dizer, dado que a utilização das renováveis não poupa a importação de petróleo em Portugal. A crise económica é que fez reduzir essas importações! Quando o lóbi eólico diz que as renováveis poupam 800 milhões de euros na importação de combustíveis, 600 milhões são poupados pela velha renovável, a hídrica, lançada pelo então ministro da Economia e nosso saudoso professor do IST, Ferreira Dias! As novas renováveis só poupam 200 milhões de euros, e mesmo aqui o valor líquido das poupanças é menor, pois troca-se a importação do carvão e gás natural pelos equipamentos dessas centrais! A grande questão é então, nesta transição energética, a substituição do petróleo no sistema de transportes, deixando-o para aplicações mais nobres na indústria. O carro elétrico puro só será massificado com uma nova tecnologia para as baterias, pois com as actuais não é proposta de valor para o mass-market. Curiosamente, a primeira corrida de automóveis foi nos EUA, com veículos elétricos. Mas depois, por alguma razão Henry Ford ganhou a Thomas Edison… O sonho utópico do Governo anterior com o impagável Manuel Pinho levou a que se instalassem por todo o país postos de carga que estão completamente vazios… Mais uma do fundamentalismo eco-utópico e da ignorância tecnológico-energética… A mobilidade elétrica devia então começar à escala urbana incentivando: (1) a crescente utilização de bicicletas e motos elétricas; (2) estimulando a passagem para frotas coletivas de transporte de qualidade, em detrimento do automóvel individual, e para isso até já tínhamos produção nacional na Salvador Caetano, que exporta autocarros elétricos! Os híbridos são a solução natural e inteligente para a transição dos automóveis de motor térmico para o veículo elétrico do futuro. Tal como os checos fizeram com a Skoda, se o nosso Governo estivesse interessado no modelo elétrico, devia era ter negociado com a VW a produção de híbridos na Auto Europa… No transporte de mercadorias, o atual modo rodoviário de longo curso na Europa vai ser posto em causa por razões ambientais e energéticas e por saturação das autoestradas, urgindo cá passar para os modos marítimo (para o que é preciso a gestão dos contentores em portos eficientes) e para linhas ferroviárias de bitola europeia, começando pelas duas linhas, uma ao sul, que ligue Sines, Setúbal e Barreiro ao Caia, e outra ao norte, Aveiro-Vilar Formoso, como já expliquei aqui nestas colunas. Em suma, nos transportes o Governo nada fez… Moreira da Silva continua concentrado nas ventoinhas e no CO2…