A BANCA PORTUGUESA NO CONTEXTO DA ZONA EURO
1 – A CRISE E A SITUAÇÃO DA BANCA PORTUGUESA
Com a entrada no Euro, a banca portuguesa passou a ir buscar aos mercados grossistas internacionais o funding de que necessitava para compensar a falta de poupança interna que é expressa no mercado retalhista através de depósitos dos residentes. O défice externo português refletiu um défice de poupança nacional face ao investimento. A banca portuguesa foi, assim, o agente que ia ao mercado externo buscar a poupança externa necessária para nos financiar. A banca portuguesa cresceu então no crédito hipotecário e ao consumo, no imobiliário e na construção na sequência das facilidades de crédito ligadas à descida das taxas de juro. A crise, devido à degradação da situação económica, levou ao aumento do crédito malparado das empresas e dos particulares que perdem o emprego, exigindo novas dotações de capital. E o fecho dos mercados externos para o financiamento da economia portuguesa acabou também por afetar dramaticamente o financiamento externo à banca portuguesa. Este período levou assim a problemas de liquidez na economia e à ameaça de credit crunch, que foram mitigados pela cedência de liquidez do BCE à banca portuguesa, cerca de 48.742 milhões de euros até maio de 2013. Com a redução significativa de alavancagem, com o reforço dos capitais, com o expressivo crescimento dos depósitos na banca portuguesa (caso notável no contexto dos países periféricos e em dificuldades, como a Espanha e a Grécia), houve um ajustamento notável do balanço dos nossos bancos, mas persistem ainda problemas de rendibilidade. Assim, neste momento que as empresas portuguesas com bom risco, designadamente as exportadoras, já não há um problema de liquidez no seu financiamento pela banca portuguesa, embora se mantenha um problema de spreads e pricing das taxas ativas elevadas, derivado da segmentação dos mercados de crédito associados aos prémios de risco das dívidas soberanas como a portuguesa. A margem financeira continuará sujeita a fortes pressões devido à baixa procura do crédito; à pouca rendibilidade do crédito à habitação com custos de refinanciamento dos bancos bem superiores às taxas ativas praticadas e cujo spread não se pode mudar; à continuação de custos de financiamento elevados em relação ao Centro da Europa e ainda ao nível baixo das taxas de juro de curto prazo, comprimindo a margem associada aos DO’s. Acrescem ainda os custos de redimensionamento dos bancos devido à menor procura de crédito que é particularmente evidente no crédito à habitação e ao consumo. Os nossos bancos terão que continuar quer com uma rigorosa gestão dos riscos de crédito quer com uma prudente política de reconhecimento de imparidades. Em suma, num quadro que não se avizinha risonho para a economia real, os bancos, o lado financeiro da economia, continuarão a sofrer com a nossa situação e a continuação da política de ajustamento, e é bom sublinhar que as condicionalidades macroeconómicas se manterão no período pós-troika.